O diretor, poeta e ensaísta italiano PIER PAOLO PASOLINI (1922-1975) é homenageado na 47ª edição do Festival de Nova York, que começa nesta sexta feira, com a apresentação do seu documentário "A Raiva de Pasolini" (“La rabbia di Pasolini”), filmado em 1963, com toda a fúria e indignação do artista em relação à sociedade italiana, de quem foi severo crítico. O filme foi remontado por Guiseppe Bertolucci, irmão de Bernardo Bertolucci, que assina a co-direção desta versão, e mantém o formato original com imagens de arquivo e comentários lidos pelo diretor alternados entre poesia e prosa. Nascido em Bolonha, PASOLINI leu Croce e Rimbaud às escondidas em pleno facismo, ao mesmo tempo que devorava Dostoievski, Shakespeare, Tolstoi, os herméticos, os simbolistas e a poesia moderna. Tornou-se antifacista, voltando suas análises para o subdesenvolvimento social e cultural do país, considerando o marxismo como ideia básica. Em 1952 publicou seu primeiro livro de poemas, enquanto cursava a Universidade em Bolonha, que considerava medíocre e fascista. Foi assassinado com requintes de crueldade por um garoto de programa em 1975. Sua morte até hoje mantém-se envolta em mistério, pois muitos acreditam ter sido encomendada por reacionários de direita.
Artista polêmico, homossexual assumido, era um crítico feroz do governo italiano, e suas obras, tanto no cinema como na literatura, influenciaram a esquerda italiana. Em seus filmes sobressae a crítica direta à estrutura do governo, que na época era ligada à igreja católica. Desde“Accatone, Desajuste Social”(1961), até “Saló”, seu último filme, esta marca está presente. Em “As 1001 Noites” (Arabian Nights, 1974), já em DVD, ele celebra o sexo e a alegria, aproveitando clássicos eróticos da literatura mundial. Neste filme, paisagens exóticas, nunca antes mostradas em cinema até então, resultam em delirantes imagens rodadas na Etiópia, Índia, Irã, Nepal e Iêmem.O crítico Rubens Ewald Filho faz resenha sobre “As 1001 Noites” no site UOL Cinema, de onde pinçamos trecho : ...”O filme mistura fantasia, mito, comédia, poesia e sensualidade. Mas não tem Sherazade nem a estrutura tradicional de outros contos das Mil e Uma Noites. Na verdade, há tanta nudez e cenas ousadas, que o filme só estreou em 1980 nos Estados Unidos, e no Brasil, ainda mais tarde, depois da abertura.”
PASOLINI gostava de usar pessoas comuns em seus filmes, entre atores profissionais, como Silvana Mangano, Ugo Tognazzi, Pierre Clementi, Anna Magnani, Totó, Maximo Girotti e Franco Citti. Até a diva Maria Callas apareceu como a feiticeira “Medeia” (1969).N I N E T T O D A V O L I, que acompanhava o irmão técnico em visita ao set quando tinha 16 anos, virou ator pelas mãos de PASOLINI, e tornou-se o ator mais presente em todos em seus 23 longas. Solto, espontâneo, brincalhão e dono de um delicioso sorriso infantil, ele foi sempre ele mesmo, e isso fascinava o diretor. Marceneiro e lustrador de móveis, DAVOLI se surpreendeu quando foi convidado a estrear como ator ao lado do consagrado comediante Totó em “Gaviões e Passarinhos” (“Uccellacci e Uccellini”, 1966).

Na estória, pai e filho, ambos trabalhadores proletários, empreendem uma viagem orientados por um corvo falastrão. O filme-parábola resultou em um dos mais instigantes da obra pasoliniana, e DAVOLI revelou-se como ator, pau a pau com um hilariante Totó.

“Decameron” (1970) são 9 contos baseados nos eternos clássicos de Boccaccio, onde freiras devassas realizam milagres sexuais, jovens amantes são flagrados de calças na mão, um simplório fazendeiro tenta transformar a mulher numa égua, e ainda uma esposa traiçoeira mostra suas habilidades para os negócios.
PASOLINI aparece como ator em “Decameron” na pele do pintor Giotto. Eu me lembro de uma indagação que Giotto faz no filme que me marcou profundamente, é mais ou menos assim: “Realizar uma obra de arte porque, se é tão belo idealizá-la ?”

A MORTE NÃO ESTÁ EM NÃO PODER SE COMUNICAR,
MAS EM NÃO SERMOS COMPRENDIDOS.
- PIER PAOLO PASOLINI -
Vamos aguardar que o documentário "A Raiva de Pasolini" chegue até o nosso patropí, depois de sua exibição no Festival de Nova York. Excelente oportunidade para se rever o grande poeta.
A maioria de seus filmes está em DVD, fica a dica pros amigos do peito.

Maria Antonieta Portocarrero Thedin, Mariinha ou TONIA CARRERO são a mesma pessoa, digo, a mesma (e única) Diva! Nome nacional do teatro, ela acaba de receber homenagem à altura de sua importância como artista e mulher. A Coleção Aplauso (Imprensa Oficial do Estado), coordenada por Rubens Ewald Filho, lança o belíssimo livro “Movida pela Paixão”, na Série Especial, escrito com fôlego por Tania Carvalho em 272 páginas de apurado material iconográfico, e recheado por pílulas biográficas, onde aparecem depoimentos de nomes emblemáticos da cultura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Aníbal Machado, Paulo Autran, Guilherme Figueiredo, Paulo Mendes Campos, José Carlos de Oliveira, Ronaldo Boscolli e outros. 




