Ele é o primeiro one man show da nossa história, sem dúvida. Sozinho num palco era capaz de deixar a platéia completamente magnetizada pelo poder único de contar estórias engraçadas e se transmutar em diversos personagens, e sem sentir falta de atores, bailarinos ou cenários. Essa capacidade de preencher um espetáculo-solo inteiro sem deixar a peteca cair foi inventada por JOSÉ VASCONCELOS.
Nascido no rádio (revelado no “Papel Carbono” de Renato Murce), ZÉ VASCONCELOS foi exportado imediatamente para a televisão quando ela dava seus primeiros passos. Aquela televisão artesanal revelou nomes que se tornaram artistas nacionalmente conhecidos, e estamos falando de um tempo que não existia vídeo tape e muito menos transmissões em rede. Tudo era local, quando Chateaubriand inaugurou a TV Tupi de São Paulo (setembro de 1950) e quatro meses depois a TV Tupi do Rio (Janeiro de 1951). Em Sampa fez “A Toca do Zé” e no Rio, “Arca de Noé”.
Desse tempo só os discos em LPs restaram com o talento vocal do ZÉ. E ele gravou diversos, com os mesmos personagens e textos (seus) que apresentava em seus programas nas Associadas paulista e carioca, gravados diretamente das temporadas teatrais que fez paralelamente. Nos discos ele está quente e impagável, tendo a cumplicidade da platéia a seus pés.
“O Mundo Algre de José Vasconcelos”, “...E o Espetáculo continua” e “Eu sou o Espetáculo” são alguns deles, sendo que este último atingiu a marca de 100.000 discos vendidos. Sabe lá o que é isso, sô?
JOSÉ VASCONCELOS (1926-2011), ou José Thomaz da Cunha Vasconcelos, nascido em Rio Branco, Acre, acaba de sair de cena aos 85 anos. Além do rádio e da televisão, fez filmes, estreando em “Este Mundo é um Pandeiro” de Watson Macedo (1946) ao lado de Oscarito, Grande Otelo e Marion, e depois protagonizou diversos espetáculos-solo de sucesso no eixo Rio-SP. Em 1964 quando visitou a Disneylândia, sonhou em montar no Brasil a Vasconcelândia, um parque de diversões monumental, mas não encontrou apoio nos poderosos grupos empresariais que procurou. Décadas depois de seus programas na Tupi, participou na Globo dos humorísticos “Faça humor, não faça guerra” ao lado de Renato Corte Real e Jô Soares, e da “Escolinha do Professor Raimundo”, a convite do amigo Chico Anysio, onde ficou conhecido pelo seu personagem, o gago Ruy Barbosa Sá Silva. Ultimamente apresentou seu gago na Escolinha da Tv Record.
No livro que escrevi recentemente para a Coleção Aplauso (Imprensa Oficial de SP), “TV Tupi, uma Viagem afetiva” registrei sua passagem pelo canal 6 carioca, no programa “Arca de Noé”, onde desfilava vários personagens, apenas usando adereços que ilustravam seus monólogos. Como eu gostaria de tê-lo entrevistado, mas o prazo de entrega era apertado, e assim não pude homenageá-lo como merecia.
E ZÉ é a própria viagem afetiva, por que eu o assistia todos os domingos. Careteiro, arregalando os olhos e fazendo bicos hilários, tinha uma máscara teatral fantástica. Para cada personagem uma voz diferente, (do calibre de Lauro Borges e Castro Barbosa do “PRK-30”), quando imitações e tiradas engraçadas enriqueciam a galeria de personagens históricos, que iam de Napoleão, Adão e Moisés ao Imperador César. Um momento inesquecível: o quadro que contava a dificuldade de apagar uma vela.
JOSÉ VASCONCELOS é gênio. Criou o gênero one man show que hoje batizaram de stand up comedy, e tem revelado diversos atores jovens na TV e no teatro. Deslumbrados com o formato, alguns se nomeiam os inventores da roda...eheheh! Que eles bebam da fonte, pois a maior é ele. Ave, ZÉ !
Além do teatro da Maria Clara Machado, com 6 anos já era levada pelo meu pai também a espetáculos ditos 'de Revista'. Com a ida anual ao "Eu sou o Espetáculo" do JV em dia (meu pai dizia que ir uma vez por ano ver o José Vasconcelos fazia parte do meu processo educacional), vi logo o que era 'sublime' na Arte (a Comédia, como me disse sabiamentemais tarde a Camila Amado), e me mantive louca pelos comediantes, Jerry Lewis lá; aqui ele (JV, divindade dionisíaca completa), Golias, Moacir Franco, etc... Não sonhava em virar Vivien Leigh; sonhava em virar Dulcina de Maorais (uma deusa completa), Consuelo Leando, Nadia Maria, Carmem Verônica, Zilda Cardoso (o que equivaleria a virar Nossa Senhora no mínimo)... José Vasconcelos é um marco Cultural; se o Estado não o reconhecer, reconheçamos nós, e alerdeemos aos que não o chegaram a ver trabalha o quaõ gigantesco ele foi, como se ritual fosse!...
ResponderExcluirJosé Vasconcelos pertence a uma escola de humoristas em extinção.Outros exemplos que povoaram minha vida, como Castrinho, Golias,Valter D'avila,Tutuca e outros são lembranças que somam a este grande ator!Que descanse em paz.
ResponderExcluirBreno Monteiro (Cascavel)
Está muito boa a reportagem mas eu acho queele devia ser lembrado enquanto estava vivo. Só agora que ele morreeu?.Me parece que a morte é uma desculpa ou 1 absolvição!!? Sobral
ResponderExcluirO Bucaneiro Prateado13 de outubro de 2011 às 07:18
Muito interessante o seu comentário, Christina, vc se identifica de maneira plena com o "sangue azul" das nossas artes. Não a conheço,mas percebo algo de Dulcina em vc,talvez a intensidade,uma liderança natural ao se colocar e o apuro artístico. Ao constatar q o José Vasconcelos é um marco cultural, vc diz tudo! Grato pela presença!
ResponderExcluirSensacional o tributo ao grande José Vasconcellos, Luis Sergio!!!! Um grande abraço!
ResponderExcluirÉ bom não se animar com a nova geração. Eu vi no Multi-Show aquele humorista zóiudo falando que o He-Man parece um paraíba porteiro! E tamb´[em o filho do Chico Anisio Bruno fazendo piada de lesbianismo com a Angela Roro. Os que aparecem no Fantastico fazem força mas só os apresentadores riem endossando humor racista e prenceitoso...
ResponderExcluirCarmen Trigueiro
O Bucaneiro Prateado16 de outubro de 2011 às 08:07
AlÔ Elmo, q bom q vc gostou, melhor ainda saber q está na área. Grato pela presença. E parabéns pelas novas conquistas da PRÓ-TV aí de SP, estou vibrando daqui.
ResponderExcluirAlô Carmen, soube através do Facebook do ocorrido no Multishow, um grupo de amigos estava tb indignado com a piada de mau gosto. Humor,amiga, é coisa séria, né? Quando o humor fica leviano, perde o sentido... Abração.
Conheci, convivi, envelheci com um "xará", que me deu a honra de ter como amigo e exemplo de profissional serio e cidadão impecavel. Fiquei triste quando ouvi a noticia da sua morte. E mais triste ao saber que "tinha morrido o "gago" da Escolinha". José Vasconcelos jamais mereceu este intoleravel desrespeito ao seu talento, ao legado que nos deixou, como um dos mais serios, "limpos" e respeitados mestres do humor inteligente. O "gago" foi brilhante sim! Certamente, o Zé jamais se arrependeu desta sua criação, como de nada do que tenha feito. Tão grande, tão consciente ele foi capaz de sonhar e lutar pelo grandioso de uma "Vasconcelandia" que "os calhordas,invejosos, plagiarios, derrotistas e incompetentes" tentaram tudo para
ResponderExcluirtransformar na piada de mau gosto que eram eles proprios. Buka, obrigado por mostrar que o gago, foi e será sempre uma referencia para que jovens de nossos dias descubram que alguem já inventou a "roda"... há muito tempo.
O giro nao se mantinha de pé na grosseria do palavrão e das historias sujas. Era outro tipo de stand-up...
Tenho assistido no Fantástico os atores jovens fazendo o que se instituiu Stand Up mas não consigo achar graça em menhum deles.Fico me achando deslocada no tempo e sem entender tantas pessoas dando gargalhadas a volta. Serão pagos para rir e aplaudir? Tânia Ramos
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