terça-feira, 3 de janeiro de 2012

NOVA ÉTICA PARA O USO DA PALAVRA



Tenho observado que a Palavra, manifestação verbal ou escrita que faz o mundo girar e as pessoas se entenderem, tem sido banalizada e desgastada com o passar do tempo. Parece que o mundo muderno não está nem aí para as suas significações e expressões, tal a ansiedade de chegar a lugar nenhum, seja na correria globalizada impregnada nos corações e mentes, ou na urgência de um convívio geral que beira a superficialidade. Assim, para qualquer situação, se diz o que primeiro vier à cabeça. Mas, e o peso da palavra, ela é ou não é a alta expressão do pensamento ?

A Filologia, desde os gregos antigos, estuda a língua, a literatura, a cultura e a civilização sob uma visão histórica, a partir de documentos escritos. O universo conspira ao som da Palavra. De dez.

Com a popularidade da internet, a Palavra ganha uma importância capital no nosso dia a dia, por isso acredito que o momento é super oportuno para se refletir sobre o assunto, e a gente se conscientizar do cuidado que se deve ter ao dizer, escrever - e por que não, pensar - com uma atenção especial no conceito, no significado verdadeiro e absoluto do vocábulo, na atualização do fonema e, por que não, na arte da Palavra.

“De todas as artes, a mais bela, a mais expressiva, a mais difícil, é sem dúvida a arte da palavra.” (Latino Coelho, A Oração da Coroa )

A Gíria é um fenômeno de linguagem especial, que nascida num determinado grupo social, termina estendendo-se, por sua expressividade, à linguagem familiar de todas as camadas sociais. Eu gosto, e uso. Uma gíria contextualizada, bem usada, dá um sentido contemporâneo à narrativa e um toque bem humorado, tipo bacana, irado, legal, caidaço, pirado, genial, mixa, mico, putz, bicho, demorô, tesão, sacar, curtir e tantas outras... algumas são classificadas como termo chulo, são expressões populares que nascem e se multiplicam aos montes nas esquinas.

O chamado baixo calão, o Palavrão, cumpre uma agressividade gratuita e, na maioria das vezes, uma limitação de vocabulário de quem profere. Segundo espiritualistas, ele atrai uma freqüência baixa de espíritos negativistas que bota todo mundo pra baixo e intolerante...Xôô! Cai fora.Prefiro guardar o palavrão para o momento inevitável de uma topada. E só.

Expressões chulas são usadas sem pensar direito no conceito que produzem. Corno, cornudo, chifrudo, por exemplo, classificam (e julgam) o (a) traidor(a) e o(a) traído(a), um tema moralista que o brasileiro adora, e que pertence,sem dúvida, a mais alta selvageria do lado primata do ser humano. E neguinho gosta...

Termos que merecem a lata do lixo (a essas alturas do século 21), conferem discriminação e galhofa aos seus usuários: piranha, bicha, viado, puta, criolo (a),fanchona, sapatão, um(a) preto(a), paraíba e bichona, entre muitos, ofendem terceiros, revelando preconceito racial e de opção sexual. É tolerância zero.

Sempre me intrigou o uso coloquial do... Muito Obrigado. Obrigado a que, cara pálida? Se o termo é um agradecimento, gratidão, reconhecimento, ou recebimento de uma graça, acho que cabe melhor um - Grato, Gratíssimo, e até um simpático...Valeu! Li não sei onde que esse lance de “muito obrigado” vem dos portugueses quando aqui nos colonizaram, e cobravam retribuição por parte dos tupiniquins – o de se sentir obrigado... (sic)

“Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos”(Luis de Camões)

Vamos tirar Camões do ostracismo!”, como bradava Jorge Loredo nos geniais humorísticos da TV Rio,.Camões é poeta maior e renovador da língua portuguesa. Manipulou todos os recursos da língua ampliando seu campo de expressão na obra, e a língua portuguesa passou a expressar sentimentos, sensações, fatos e ideias de uma forma que até então não fora alcançada por ninguém.

Evocar Camões é resgatar a ética na Palavra tantos séculos depois... e também saudar outro grande poeta da língua portuguesa, que tem o dom da Palavra: Caetano Veloso.


Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luis de Camões

Gosto de ser e de estar

E quero me dedicar a criar confusões de prosódia

E uma profusão de paródias

Que encurtem dores

E furtem cores como camaleões...” (“Língua”/Caetano Veloso)

7 comentários:

  1. Proteger a Língua-Mãe é uma tarefa nobre, caro bucaneiro.Bravo pela iniciativa.Me pego corrigindo meus devaneios ortográficos e gramáticos, é um auto-policiamenmto que todos devemnos ter no cotidiano e é tão importante quanto escovar os dentes, tomar banho, etc. Hélio Amadio

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  2. Muito bom! A palavra é uma bela arte, para quem sabe usar. As vezes, uma unica palavra muda seu humor, seu dia, sua vida. Então salve ela, e quem como vc. faz dela uso correto e sempre sabe como dizer, ou seja:vc. tem o talento e o dom e nos brinda com lindos artigos. Bjs e carinhos
    Vera Vianna

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  3. Nunca pensei nisso que voce fala do obrigado. Estamos acostumados e falamos coisas sem um entedimento certo das palavras. Concordo porque é subserviente mesmo. Grata!Lita Paes Leme

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  4. A esplanação está muito elucidativa e interessante. Sinto o dever de acrescentar alguns nomes que defenderam nossa Língua portuguesa e a enriqueceram com estudo e pesquisa, como Angela Vaz Leão, Abgar Renault, Aurélio Buarque de Holanda, Domicio Proença Filho, Celso Luft, Alvaro de Sá e Antonio Houaiss, cujos trabalhos publicados em livros e dicionários tornaram-se fonte do saber para todos os brasileiros! Agradeço e cumprimento. Sandoval de Abreu

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  5. Excelente reflexão. Parabéns> Sobral

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  6. Achei muito curioso a história do muito obrigado, e fico pensando, se veio dos portugueses como o senhor diz,não terá sido o proprio Luis de Camões o implantador do vocábulo ? Itamar de Paula

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  7. A ausencia da língua portuguesa esta no programa da Regina Casé.Não percam!!Lá falar errado é bem incentivado e aplaudido. Malu

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