domingo, 3 de fevereiro de 2013

AQUELE QUE SABE VIVER...MODESTAMENTE



Não tem como deixar passar em branco o cinqüentenário do filme “Il Sorpasso” /“Aquele que sabe viver” de Dino Risi (1922-2008), delicioso road-movie realizado em 1962 e que influenciou gerações, a começar pela minha.

Amarcord, cara pálida...quando eu era garoto 'e amava os Beatles e os Rollings Stones', assisti  com um grupo de carinhas da minha turma o filme no Roxy, e naquele momento crucial de descobertas, ele caiu como dinamite nas nossas cabeças. Saímos do cinema  mais adolescentes do que quando entramos. Para digerir sensações tão avassaladoras assimiladas, me lembro que ficamos horas sentados  na praça, ali na Lagoa, lembrando das cenas, diálogos, frases...
      

A bordo de uma possante Lancia Aurélia B24, Bruno e Roberto, dois recém desconhecidos de temperamentos e mundos opostos, quebram a solidão de um domingo dando um rolé pelas ruas de Roma. O farrista inconseqüente  Bruno é Vittorio Gassman (1922-2000) e Roberto, o estudante tímido, Jean-Louis Trintignant.  Os dois  tornam-se amigos na dualidade e na velocidade da pista, revelando que os opostos realmente se atraem.


Aquele que sabe viver, sabe viver? É o que a gente se pergunta o tempo todo. Fascinado pela personalidade hedonista de Bruno, tanto Roberto quanto o público mergulham cúmplices nas tiradas e posturas do fanfarrão. Gassman está absoluto na pele de Bruno.


Jean-Louis Trintignant não fica atrás, nem em carisma e nem em beleza com seu partner. Desenha com tanta sinceridade seu Roberto que dá igual peso à dupla protagonista. Show de atuação. No momento, Trintignant protagoniza “Amor” de Michael Henek aos 83 anos.
           

Catherine Spaak, atriz e cantora super prestigiada na época, só aparece nos vinte minutos finais do filme, mas sua beleza e juventude iluminam a tela na pele da filha de Bruno, Lilly. Colírio, uma deusa.
  

O roteiro impecável de Ettore Scola e Roggero Maccari foca com maestria o contraste dos  universos dos protagonistas, seguindo a ironia afiada do grande Dino Risi, socialista convicto e admirável diretor de comédias. A seqüência no restaurante quando Bruno tira sarro com a mulher do comendador – Franca Polesello – com quem mantém escusos negócios, sempre foi a mais marcante do filme. Ele, seguro e debochado, responde a ela quando é saudado por sua virilidade: “Modestamente...”



                       

Quem já viu, merece um replay. Quem não viu, o DVD está à venda direto pela internet. Além de ser considerado cult, trata-se de um dos mais importantes filmes de todos os tempos. Modestamente, claro. Premiado duas vezes em 1963, em Mar del Plata e pelo  Sindicato dos Críticos, Gassman também ganhou o Melhor Ator do ano. A crítica social, o humor corrosivo, a compreensão profunda das fraquezas humanas e a consciência melancólica da passagem de tempo, são algumas das questões refletidas neste arraso de filme.


On the road again, onde a dupla solta os bichos ao vento na velocidade da vida...Hoje, na flor da maturidade (hehehe), reflito sobre Bruno no prazer individual e imediato como  único bem possível e com a única intenção de se dar bem...  A postura escancarada que foi um grito de liberdade na Itália (e no mundo) de então, nos tempos atuais, me soa fora do eixo, cuja ultrapassagem (il sorpasso) pode ser uma faca de dois legumes. 
Ultrapassar é hoje mais se superar do que passar os outros pra trás, né não?

Bruno e Roberto deslizam pela estrada confiantes e excitados pela repentina parceria e o preenchimento  das respectivas solidões... As gags são impagáveis. Risi tira onda até com Michelangelo Antonioni, diretor italiano que brilhava  naquele 1962, dizendo através de Bruno/Gassman que dormiu durante a exibição de “O Eclipse”, ode à incomunicabilidade, ao contrário desta comédia dramática genial.



Saber viver neste mundo...Modestamente


                       

10 comentários:

  1. Que maravilha de filme.emiliano queiroz

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  2. Serginho amigo, il Sorpasso é uma belíssima lembrança. O Bucanero, como sempre, muito inteligente, afetuoso e bonito.
    Abs
    Xavier de Oliveira.
    - via e-mail -

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  3. Oi Luis Sérgio
    Parabéns pelo Bucaneiro! Viajei no Il sorpasso!
    Bjs.
    a.t.
    Almir Telles via e-mail

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  4. Adoro esse filme, grande lembrança!Saudades Bucaneiro! bjssss
    Vera vianna

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  5. Gostei Bucanero
    lembrar desse filme !!! Voltei muitos anos da minha vida VALEU!!! Cadu

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  6. Esse filme claro que é maravilhoso mas uma terrivel constatação. Se ele faz 50 anos é sinal que estou ficando velha...Lágrimas ,ops.rsrsrsrs,; bem que eu gostaria de ver de novo para uma viagem no tunel do tempo.Obrigada querido! Malu Veiga da Costa

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  7. Assisti sem querer na Rai mas perdi muita coisa porque não era dublado e tamnbem não t inha tradução. Boiei em quase tudo mas assim mesmo foi divertido porque tem muita ação e as musicas são ótimas. Quero ver no video.
    Isa

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  8. O filme é divertido sim mas o final é moralista. E a tradução no Brasil não tem nada a ver com o italiano. Pelo menos eu entendi assim que não é o cara que sabe viver, ele é porralôca e maluco das idéias, um suiicida em potencial.Por isso não,precisava acabar provocando a morte do outro. Tenso.. Rogerio Palma

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  9. Parabéns, amigo!
    E vita lunga! Adorei rever Il sorpasso.
    beijo,
    Edinha Diniz

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  10. Catherine Spaak e Françoise Hardy eram vozes da minha juventude. Vous me manquez...Melissa

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