E não peço desculpas, e nãotenho culpa, mas que dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou...
E ninguém botou mais o bloco na rua que ele nos vinte e tres anos da curta carreira, batalhada, ralada, e muitas vezes incompreendida, que impôs com a cara e a coragem, às custas de uma determinação impressionante. Jorrava composições, e a todos queria mostrar uma nova, pedia, corria e recebeu de troco bem menos que ofereceu.
Difícil de se adaptar aos esquemas da época, esnobou imprensa e gravadoras quando atingiu o único sucesso popular, mas no trato pessoal era uma doce figura, gentil, engraçado e muito bem humorado. Seu padrinho e descobridor foi Raul Seixas, então produtor da CBS, quando tornaram-se guru um do outro, tais as semelhanças e identificações. Farinha do mesmo saco.
Raulzito apostou na parceria com Sampaio ao criar às escondidas da poderosa gravadora o disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”. Obra-prima em criatividade e audácia, o disco, hoje um clássico, foi violentamente rejeitado na época, sem uma avaliação correta do ganancioso mundo fonográfico e da mídia de então.
Além da companhia de Raul, Sampaio formou um quarteto anárquico com a sambista paulista Miriam Batucada e com o show-man Edy Star. O resultado é um caleidoscópio saboroso de ritmos com vinhetas debochadas e muito engraçadas, em canções como “Êta vida”, “Eu vou botar pra ferver”, “Quero ir”, “Todo mundo está feliz” e, a mais conhecida, “Sessão das Dez”, consagrada por Raulzito anos depois.
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, tinha uma admiração especial pelo conterrâneo Roberto Carlos. Nem o primo Raul Sampaio, autor de “Meu pequeno cachoeiro”, serviu de passaporte para que ele chegasse até o Rei: seu sonho, não realizado, era que Roberto gravasse um blues belíssimo que compôs especialmente para ele, “Meu pobre blues.”
Foi inútil...Eu juro que tentei
compor uma canção de amor
Mas tudo pareceu tão fútil
E agora que esses detalhes já estão pequenos demais
E até o nosso calhambeque
já não te reconhece mais
Eu trouxe um novo blues, com cheiro de uns dez anos atrás
E penso ver você cantar...
Com seu desaparecimento em 1994, o silencio em torno de sua obra permaneceu por anos, até começar a ser descoberto por colegas de novas gerações e, consequentemente, por jovens antenados de todo o país, que felizmente existem sim. Zeca Baleiro lidera a trupe, e em 2006 lança “Cruel”, uma reunião de fitas demo contendo dezenas de composições.
Diz Baleiro: “O charme de Sergio era a sua rebeldia, suas opiniões. Isso não faz muito sentido hoje, mas fazia na época.Fui conhecendo seus discos e me encantando cada vez mais. Sempre senti afinidade com a música e a poesia de Sampaio”.
Em seguida, Baleiro reuniu boa parte da obra dele no projeto “Balaio do Sampaio”, gravando um cd com time de primeira da nossa música, tipo Zizi Possi, Elba Ramalho, Erasmo Carlos, Chico César, João Bosco, João Nogueira, Eduardo Dussek, Luiz Melodia e Renato Piau, entre outros.
Tres anos depois de sua morte, o Cemitério São João Batista, onde foi enterrado, convocou a família para receber os restos mortais de Sampaio. Seu primo o documentarista João Moraes e sua ex-mulher, a arquiteta Ângela Breitschaft ( mãe de seu filho João), receberam o esquife. Diz Moraes: “Embrulhamos o esquife numa papelaria e eu saí com ele. Atravessei a rua e entrei num boteco.Pedi uma Caracu e um traçado (pinga com catuaba) para mim e outro para ele.”
Quando Moraes retornou para Cachoeiro, resolveu criar um evento chamado Segunda sem lei, no qual abria a casa semanalmente para visitações com violão e cerveja na presença da caixa de Sampaio...Os poetas Chacal e Sergio Natureza marcaram presença e também escreveram na caixa. “Eu achava que poderia ser desrespeito, mas depois me toquei que essa picardia era a cara dele”, relata Moraes.
Maria Bethânia em seu inesquecível show “Drama, Luz da noite” (1973), dirigido por Fauzi Arap, incluiu uma das mais inspiradas composições de SERGIO SAMPAIO : “Quatro paredes”, que apresentamos na seqüência. Aumente o volume, desligue o celula, feche os olhos e sinta...
...Eu sou quem curte o silencio, o momento, o segredo,
Quem geme de frio, quem fica com medo
Quem anda abatido sem ter um lugar pra morar.
Eu tenho pressa, não minto
Mas sinto que estou
Entre as quatro paredes da vida
E tenho sede, meu amor.
E guardo tudo com muito cuidado
Dentro de mim.
Luis Sergio: você é a nossa memória. Glória a Deus por isso. Beijos mis da Catito
ResponderExcluirQue cantor notável!Obrigada,estou emocionada com essa voz e essa musica.Sandra Lobato
ResponderExcluirSIM SIM SIM!!! UM ARTISTA MAIOR, INJUSTIÇADO!!! CLAUDIO GONZAGA
ResponderExcluirA História lhe fará justiça. O que fez, o que criou, é pra sempre.
ResponderExcluirNeila Tavares
Muito bem lembrado. Obrigado Luis Sergio.
ResponderExcluirRuth Mezeck
Que precioso lembrar um BELO artista dos anos 70. Com carinho do velho ator emiliano queiroz
ResponderExcluirsonzaaaa a ço, valeu!!!! Cadu
ResponderExcluirGostei de lembrar da época, que eu era ouvinte do Raul Seixas. o Sergio Sampaio é da geração dessas raridades. Valeu.
ResponderExcluirGustavo Ribeiro.
GENIO GENIO GENIO!!!! SOBRAL
ResponderExcluirExcelente matéria.
ResponderExcluirParabéns!
Dalto maldito?será quem eu estou pensando?
ResponderExcluirsou primo de sergio sampaio,nilton
ResponderExcluirnilton,moro em itapeba
ResponderExcluirmeu telefone 26340020
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