terça-feira, 22 de setembro de 2009

PIER PAOLO P O E T A PASOLINI



O diretor, poeta e ensaísta italiano PIER PAOLO PASOLINI (1922-1975) é homenageado na 47ª edição do Festival de Nova York, que começa nesta sexta feira, com a apresentação do seu documentário "A Raiva de Pasolini" (“La rabbia di Pasolini”), filmado em 1963, com toda a fúria e indignação do artista em relação à sociedade italiana, de quem foi severo crítico. O filme foi remontado por Guiseppe Bertolucci, irmão de Bernardo Bertolucci, que assina a co-direção desta versão, e mantém o formato original com imagens de arquivo e comentários lidos pelo diretor alternados entre poesia e prosa.

Nascido em Bolonha, PASOLINI leu Croce e Rimbaud às escondidas em pleno facismo, ao mesmo tempo que devorava Dostoievski, Shakespeare, Tolstoi, os herméticos, os simbolistas e a poesia moderna. Tornou-se antifacista, voltando suas análises para o subdesenvolvimento social e cultural do país, considerando o marxismo como ideia básica. Em 1952 publicou seu primeiro livro de poemas, enquanto cursava a Universidade em Bolonha, que considerava medíocre e fascista. Foi assassinado com requintes de crueldade por um garoto de programa em 1975. Sua morte até hoje mantém-se envolta em mistério, pois muitos acreditam ter sido encomendada por reacionários de direita.

Artista polêmico, homossexual assumido, era um crítico feroz do governo italiano, e suas obras, tanto no cinema como na literatura, influenciaram a esquerda italiana. Em seus filmes sobressae a crítica direta à estrutura do governo, que na época era ligada à igreja católica. Desde“Accatone, Desajuste Social”(1961), até “Saló”, seu último filme, esta marca está presente. Em “As 1001 Noites” (Arabian Nights, 1974), já em DVD, ele celebra o sexo e a alegria, aproveitando clássicos eróticos da literatura mundial. Neste filme, paisagens exóticas, nunca antes mostradas em cinema até então, resultam em delirantes imagens rodadas na Etiópia, Índia, Irã, Nepal e Iêmem.

O crítico Rubens Ewald Filho faz resenha sobre “As 1001 Noites” no site UOL Cinema, de onde pinçamos trecho : ...”O filme mistura fantasia, mito, comédia, poesia e sensualidade. Mas não tem Sherazade nem a estrutura tradicional de outros contos das Mil e Uma Noites. Na verdade, há tanta nudez e cenas ousadas, que o filme só estreou em 1980 nos Estados Unidos, e no Brasil, ainda mais tarde, depois da abertura.”


PASOLINI gostava de usar pessoas comuns em seus filmes, entre atores profissionais, como Silvana Mangano, Ugo Tognazzi, Pierre Clementi, Anna Magnani, Totó, Maximo Girotti e Franco Citti. Até a diva Maria Callas apareceu como a feiticeira “Medeia” (1969).
N I N E T T O D A V O L I, que acompanhava o irmão técnico em visita ao set quando tinha 16 anos, virou ator pelas mãos de PASOLINI, e tornou-se o ator mais presente em todos em seus 23 longas. Solto, espontâneo, brincalhão e dono de um delicioso sorriso infantil, ele foi sempre ele mesmo, e isso fascinava o diretor. Marceneiro e lustrador de móveis, DAVOLI se surpreendeu quando foi convidado a estrear como ator ao lado do consagrado comediante Totó em “Gaviões e Passarinhos” (“Uccellacci e Uccellini”, 1966).


Na estória, pai e filho, ambos trabalhadores proletários, empreendem uma viagem orientados por um corvo falastrão. O filme-parábola resultou em um dos mais instigantes da obra pasoliniana, e DAVOLI revelou-se como ator, pau a pau com um hilariante Totó.


“Decameron” (1970) são 9 contos baseados nos eternos clássicos de Boccaccio, onde freiras devassas realizam milagres sexuais, jovens amantes são flagrados de calças na mão, um simplório fazendeiro tenta transformar a mulher numa égua, e ainda uma esposa traiçoeira mostra suas habilidades para os negócios.

PASOLINI aparece como ator em “Decameron” na pele do pintor Giotto. Eu me lembro de uma indagação que Giotto faz no filme que me marcou profundamente, é mais ou menos assim: “Realizar uma obra de arte porque, se é tão belo idealizá-la ?”



A MORTE NÃO ESTÁ EM NÃO PODER SE COMUNICAR,
MAS EM NÃO SERMOS COMPRENDIDOS.
- PIER PAOLO PASOLINI -

Vamos aguardar que o documentário "A Raiva de Pasolini" chegue até o nosso patropí, depois de sua exibição no Festival de Nova York. Excelente oportunidade para se rever o grande poeta.
A maioria de seus filmes está em DVD, fica a dica pros amigos do peito.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

T O N I A, A DIVA MOVIDA PELA PAIXÃO



Maria Antonieta Portocarrero Thedin, Mariinha ou TONIA CARRERO são a mesma pessoa, digo, a mesma (e única) Diva! Nome nacional do teatro, ela acaba de receber homenagem à altura de sua importância como artista e mulher. A Coleção Aplauso (Imprensa Oficial do Estado), coordenada por Rubens Ewald Filho, lança o belíssimo livro “Movida pela Paixão”, na Série Especial, escrito com fôlego por Tania Carvalho em 272 páginas de apurado material iconográfico, e recheado por pílulas biográficas, onde aparecem depoimentos de nomes emblemáticos da cultura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Aníbal Machado, Paulo Autran, Guilherme Figueiredo, Paulo Mendes Campos, José Carlos de Oliveira, Ronaldo Boscolli e outros.
Oportuno destacar o preço cobrado por esta joia da editoria brasileira, 30 paus !


São 54 peças de teatro, 19 filmes, 15 novelas e 9 programas especiais de TV, por onde TONIA CARRERO desfilou talento e beleza, a reboque de uma trajetória de atriz coerente com sua apaixonada maneira de viver.
Senhores, eu vi: em 1967 eu estava no balcão do Teatro Maison de France quando aconteceu a explosiva estréia de “Navalha na Carne” de Plínio Marcos, sob a direção de Fauzi Arap. Em cena o mito se desconstruiu, a grande TONIA CARRERO já tinha carreira sólida, mesmo assim, se despojou de toda e qualquer vaidade, e se entregou com alma e coragem na composição da prostituta Neuza Suely, ao lado de Nelson Xavier e Emiliano Queiroz, os atores que sempre cita como os que maior prazer lhe proporcionaram no embate da representação, igualmente como o inseparavel Paulo Autran. Ali, ela tapou a boca dos que ainda duvidavam da parceria beleza e talento, que já a haviam consagrado. Colocou postiços que acusassem decadência física, carregou na maquiagem, falou todos os palavrões que tinha direito e...
abiscoitou o Premio Molière de melhor atriz do ano. Ao mesmo tempo que surpreendeu a sociedade brasileira em momento delicado, descontentou a ditadura militar. É histórico o diálogo da atriz com o então Ministro da Justiça Gama e Silva, relatado em “Movida pela paixão” na página 128.

Imperdível! A carreira da TONIA, sua luz e sua chama de vida, estão ao alcance de todos a partir desta publicação, que já é a mais fulgurante obra memorialista lançada neste ano no mercado editorial brasileiro. Parabéns Hubert Alquères, Rubens Ewald Filho, Felipe Goulart, Ana Maria Cerqueira Leite, Tania Carvalho e o Governo do Estado de São Paulo - Imprensa Oficial do Estado - pelo peso cultural do empreendimento! Peso pesado.


Como ela sempre foi o parque de diversões dos maiores fotógrafos brasileiros – fotogenia, carisma e beleza - o BUCANEIRO publica com exclusividade um clic especial do fotógrafo Antonio Guerreiro, cedido ao nosso blog, para celebrar T O N I A, moderna, elegante e guerreira. Ave, Diva !


Foto 1: Acervo Coleção Aplauso/ Tonia Carrero
Foto 2 : Site Bala Perdida
Foto 3 : Antonio Guerreiro

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

FERNANDA SOLO RESGATA BEAUVOIR





Viver. Sem tempos mortos. Assim, FERNANDA MONTENEGRO estreia na cena carioca depois de oito anos fora dos palcos, trazendo a figura emblemática da escritora, filósofa e feminista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986). Cartas trocadas com o companheiro Jean Paul Sartre (1905-1980) e escritos sobre a sua experiência de vida, trazem à tona a grande pensadora francesa que influenciou uma geração, e que estava completamente longe dos holofotes, mas só mesmo uma artista do calibre de FERNANDA poderia pontuar com ênfase este resgate super oportuno para o século 21.

“Viver sem tempos mortos”, acaba de inaugurar a sala 2 do Teatro Fashion Mall, sob a direção de Felipe Hirsch, depois de percorrer a Baixada Fluminense e o Sesc Anchieta de São Paulo com casas lotadas. No Oi Futuro, aqui no Flamengo, cumpriu uma temporada-relâmpago, botando gente pelo ladrão, e agora entra em temporada em São Conrado.


O que se vê no palco despojado do Fashion Mall é um recital pelado, nu, cru, sem qualquer artifício de montagem, sem truques, efeitos ou mecanismos teatrais. Artesanato puro. Não existe em nenhum momento do espetáculo aliciamento com a platéia. FERNANDA entra em cena, senta numa cadeira e, sem gestual ou qualquer apelo, e com trabalho vocal filigranado, dá o recado da visão libertária de Simone de Beauvoir em narrativa branca e com máscara limpa.
O minimalismo é involuntariamente comovente, te pega a emoção daquela alquimia. E a danada liquida a fatura com elegância e competência habituais. No final, neguinho aplaude de pé mesmo na comunhão plena palco x platéia, não tem como, é como um agradecimento especial por sua luta de tantos anos pelo melhor do teatro brasileiro.


Larguem tudo e atravessem o Zuzu Angel.
FERNANDA é Beauvoir, Simone é MONTENEGRO, o entrelaçar é mágico e belo !
E a gente sai leve, vivendo sem tempos mortos.


Fotos : Guga Melgar

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A PRESIDENTA VEM AÍ



Estamos às vésperas de mais uma eleição presidencial. Viva a democracia que nos foi devolvida depois dos dantescos tempos da ditadura militar!
O cardápio que nos oferecem, promete um enfrentamento de duas mulheres:

Dilma Rousseff e Marina Silva. A primeira, mineira ex-guerrilheira e ministra da Casa Civil, é a darling do presidente Lula, e a segunda, acriana, ex-ministra do Meio Ambiente, dá seu grito de independência e cai nos braços do PV. É uma disputa nobre, já que se trata de duas mulheres inteligentes e competentes, senão não chegariam a uma polarização a essas alturas do campeonato. Li recentemente uma entrevista de Fernanda Montenegro, que falava com a lucidez de sempre, sentir oportuna a chegada de uma mulher na presidência.


Na internet já estão pipocando manifestos virtuais saudando a chegada da Marina Silva, e outros detonando a ministra candidata, como o que recebi de uma amiga, que reproduz depoimento de Danuza Leão, afirmando estar com tanto medo de “dona Dilma”, como Regina Duarte sentiu da eleição do presidente Lula.


Assim, estamos adentrando esta pré-primavera com promessas de chumbo grosso à vista! As metralhadoras giratórias estão sendo azeitadas, só não vale bala perdida... Quem for cascudo que se toque.

O BUCANEIRO aproveita a deixa e prepara o Coquetel da Presidenta 2010:
Que ela seja raçuda como Cidinha Campos, tenha o brilho da Nélida Piñon, seja safa como Fernanda Torres, incisiva como Marilia Gabriela, carismática como Martinália, lindona como Letícia Sabatella, ferrenha como Maria da Conceição Tavares, diferentona como Adriana Calcanhotto, sexy como Giselle Bundchen, expressionista como a Elke ao mesmo tempo interiorizada como a Odete Lara, mas que exiba o sorrisão da Fafá de Belém, a elegância da Constança Pascolato, o despojamento da Maitê Proença e a integridade da Fernanda Montenegro. Que drink, hein, hein?

É a hora e a vez dela no poder. Salve a Muléééé !


Ilustração : J.Carlos
Foto 1 : Wordpress
Foto 2: Elza Fiúza / Agencia Brasil