Determinação, teu nome é BETTY FARIA. Faria, não, fez e
faz... Na adolescência conseguiu do pai militar autorização para dançar nos
shows de boate de Carlos Machado, começando assim uma carreira de luta e de
coragem. Vai encarar o que? Todas elas
encarou, focada, descolada, rebelde, moderna e carioquíssima.
“Ela é carioca, ela é
carioca, basta o jeitinho dela andar”... os versos de Vinicius parecem ter
sido feitos sob medida para ela. Já viu a BETTY andando? A cara do Rio, da
garota de Ipanema, do Leblon, do Leme ao Pontal.
Libertária, rebelde e contestadora, o temperamento quente
apimentou a sua beleza de traços finos e delicados, uma bonequinha linda, corpo
perfeito, pernas que o balé aperfeiçoou,
e que a transformaram na tremenda gata que marcou toda uma geração.
Tanta beleza assim foi parar na Playboy por duas vezes em ensaios fotográficos
tão belos quanto artísticos.
Ela nunca teve vergonha do seu corpo, pudores ou caretices.
BETTY FARIA e Leila Diniz viraram ícones da beleza e da
transgressão do final dos 60’
e início da década de 1970. Arrasaram o quarteirão. Quando ela fazia um show na
boate Sucata (Lagoa) e Leila estrelava “Tem banana na banda” em Ipanema, as
duas amigas tinham namorados motoqueiros. Não é que ambas queimaram as
panturrilhas no mesmo lugar quando atracadas na moto? A turma do Pasquim e a
patota de Ipanema zoaram direto, e logo espalharam no balneário: é castigo de moça que diz palavrão!
Na foto emblemática de Antonio Guerreiro, o selinho das
duas, uma comunhão de irmãs que sintonizavam o mesmo grito de liberdade de
então. Leila era muito querida mas foi muito perseguida pela ditadura militar.
Do meio artístico teve como amigas fiéis, Marieta Severo, Vera Vianna e Ana
Maria Magalhães, além de BETTY.
Agora, em pleno século 21, BETTY FARIA, aos 72 anos, defende
o direito de usar o inseparável biquíni na praia do Leblon, quando os paparazzi publicam em revistas e nas
redes sociais os flagras de seus momentos ao mar, provocando comentários e
críticas pela atitude. Sem querer fazer história, mas fazendo, a carioca
Elisabeth Maria Silva de Faria está sendo tão revolucionária quanto a mana Leila
Roque Diniz quando chocou os caretas de então exibindo a barriga de grávida
vestindo biquini. E mudou comportamento.
- “Queriam que eu fosse à praia de burca?”, indaga ela. Entrevistada
recentemente pela revista O Globo, declarou sua raiva inicial com o bombardeio
que recebeu, e que foi amortizado de certa maneira pela reação de muitas
mulheres que não só a apoiaram mas se inspiraram na sua atitude: “Teve até uma
que me escreveu dizendo que foi libertador para ela, que ela passou a se
aceitar mais.”
A determinada BETTY FARIA que ralou pra caramba pela
carreira de atriz, que correu grávida até oito meses nas passeatas contra a
ditadura, e que encarou tudo e todos com muito humor e rebeldia vive um momento
histórico para as mulheres maduras contemporâneas. Não tira de letra não, por
que sempre foi lúcida e analisada, e hoje, budista, mulher de fé, assume a
condição da velhice com a coragem que marcou a sua juventude.
“...Negocio para sobreviver, porque sou uma pessoa que gosta
da vida. Como vivi intensamente todas as minhas fases, fui me preparando para o
terceiro tempo da vida.”
Sem o condicional do sobrenome, BETTY faz e ainda fará a
cabeça de muita mulher por aí... Salve ela!