sábado, 22 de junho de 2013

O POVO NAS RUAS



Apenas 20 centavos. Foi o que bastou para deflagrar um movimento social a nível nacional, que contextualizam como ‘o gigante adormecido que despertou’... Jovens do Movimento Passe Livre, que há dez anos batalham pela melhoria de transporte em São Paulo, colocaram o cidadão brasileiro no centro das políticas públicas reivindicando uma qualidade de vida mais humana e justa, entre muitas outras coisas. Rompendo com o circuito tradicional da mídia, o movimento nasceu na internet, comandado pelas redes sociais. A polícia paulista inicialmente foi truculenta, o que fez a panela ferver.


Depois de uma semana de protestos, as prefeituras baixaram os preços das passagens conforme a reivindicação principal dos jovens. Um ponto que chama a atenção recai sobre a concessão das empresas de ônibus com as prefeituras. Uma CPI está em andamento para analisar as planilhas de custo das empresas, que não são divulgadas pelas prefeituras. Querem abrir essa caixa-preta.


No último Roda Viva da TV Cultura, foram entrevistados dois integrantes do Passe Livre: a estudante de direito Nina Cappello e o professor de História Lucas Monteiro de Oliveira. Transparente, bem informada e focada, a dupla mandou bem, e deixou bem claro que a luta do Movimento, desde 2005, visa a Tarifa Zero. Já foram chamados de malucos quando levantaram a bandeira pela primeira vez, mas hoje acreditam estarem no caminho certo. Lights e articulados, os dois jovens deram um banho de sinceridade e ausência de ego.


Quem pode controlar a multidão? As passeatas em todo o país refletem uma grande insatisfação geral, e a catarse tem horas que parecia estar fora do controle. Em todas as capitais e cidades interioranas ou não, a chaleira está fervendo. Mesmo acontecendo na maior parte de maneira pacífica, a manifestação tem uma contramão perigosa: os arruaceiros. O quebra-quebra gabiroba tá solto.

Invasões, vandalismos, saques e enfrentamentos atordoam e desviam o objetivo do movimento.É legítima a nossa cidadania. Fala-se nas redes sociais tratar-se de pessoas plantadas.


A imprensa ficou no fogo cruzado e não foi poupada, com repórteres e cinegrafistas machucados e carros de reportagem incendiados. A Globo, visada pelos manifestantes, foi obrigada a trabalhar com microfone sem o símbolo da emissora em diversos flashs, assim como o ético repórter Caco Barcellos, autor de “Rota 66”, foi desrespeitado no ar em pleno exercício de seu ofício.

 FLAGRAS DO FACES


Desperta gigante!

A Saúde, um foco crucial

A cura gay do Feliciano...


"A juventude não permite que ninguém desconfie dela" (J.Bucknner)


Yasmin Brunet na passeata

Aviso aos navegantes: o Brasil não está à deriva. ‘Apesar de você, amanhã há de ser um outro dia...’ Já vimos esse filme. Temos que estar atentos e fortes, é momento de reflexão. Não existe uma revolução, é um movimento social que reflete mudança, e ela é sempre bem-vinda. Os modelos políticos esvaziaram-se. Os partidos estão partidos. Os 3 Poderes, um saco de gatos e gasto$...O povo tá indignado.


A presidenta Dilma fez pronunciamento, e saudou o poder do cidadão -“...A voz da rua precisa ser ouvida e respeitada” – prometendo receber os líderes da manifestação e também fazer um pacto com governadores e prefeitos, focado na área dos transportes, saúde e educação. Falou com ênfase na reforma política e no combate à corrupção.


No blog Terra Magazine de Bob Fernandes (terramagazine.terra.com.br), Lucas Monteiro do MPL confirmou que, para evitar a apropriação do movimento pela extrema direita e a violência nas ruas, não convocará mais protestos em São Paulo a partir de agora. 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

PENSANDO FREUD NO SÉCULO 21



Tem mais de cem anos que Sigmund Freud (1856-1939) inventou a Psicanálise. A investigação de processos mentais  mudou o comportamento do mundo através do procedimento analítico entre o analista e o analisado. Numa postura relaxada, o analisado é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente – método de associação livre – suas aspirações, angústias, sonhos e fantasias, assim como experiências vividas. O analista tenta, escutando o analisado, manter uma atitude de neutralidade, o não-julgamento.


Aprendemos a conviver com termos tipo: transferência, instinto, desejos inconscientes, divisão, neuroses, idealização, narcisismo, traumas, frustração, culpa, complexo, compensação, pulsão e outros mais. Tudo isso é avivado num quebra-cabeça de conteúdo saboroso para o psicanalista. A mente humana é um parque de diversões. Diversões é maneira de dizer, pois dói pra caramba...


 Lembro dos meus três anos de análise e outros  mais de tentativas, uma delas, frustrada, com um psicanalista especializado em adolescentes que era considerado um dos maiores da época. Depois de alguns meses de lua-de-mel, chegamos a um ponto intransponível no tratamento. Descobri que ele era radical e perigoso. Vazei. Depois de outras incertas, encontrei aquele que me deu rumo e toques fundamentais: dr Jacob Fuks. A ele, agradeço de coração o que pude detectar e melhorar naqueles vinte e muitos anos...Um dia, ele me disse mais ou menos isso: “você já reparou que tudo o que acontece de importante na sua vida tem a ver com o ato de escrever?” Caiu uma ficha aí determinante para minha vida profissional.


A Psicanálise me ajudou muuito, principalmente em questões da minha valorização - que eu não soube sedimentar – e na relação familiar, especialmente com meu pai. Eu me dei alta por que vi que aquele mergulho era infinito, dava dízima...Eu que me virasse na vida prática, pois já tinha recebido a régua e o compasso. Fuks concordou, mesmo transparecendo certa contrariedade em minha decisão.


Dos conceitos freudianos, alguns se eternizaram para mim: a pulsão do ego é uma delas, especialmente por que estava me introduzindo no meio do teatro onde a fronteira da vaidade é sem limites. Acredito que aprendi a dominar o ego; o inconsciente e seus mistérios foi também uma revelação fundamental: a consciência é somente a ponta do iceberg... Em nós não é só a razão que domina. Outra: não somos donos de nós próprios: conhece-te a ti mesmo é lema da teoria psicanalítica que governa o homem ontem, hoje e sempre.
                        

A contemporaneidade da Psicanálise é atestada ao assistir um espetáculo teatral como “Freud a Última Sessão” em cartaz até o dia 30 no Teatro Clara Nunes. Ela está viva em pleno século 21. A platéia é envolvida numa autêntica sessão de grupo ao testemunhar o embate entre doutor Freud, um ateu ferrenho, e C.S.Lews (1898-1963), escritor renomado, então estudante de Oxford, e cristão fervoroso.


A emocionante montagem assinada por Ticiana Studart faz a platéia refletir o tempo todo. E, mesmo com marketing rotulado de comédia, a brilhante peça do autor americano Mark St Germain bota o público para pensar, acompanhando atentamente os temas debatidos: a religião, o sexo, a sociedade humana e a própria psicanálise. O humor sarcástico ensaia breve reação crítica no espectador, mas passa ao largo do gênero comédia.


Hélio Ribeiro interpreta  Freud em composição apurada, convencendo a platéia  tratar-se de um octagenário transtornado com o cancro de palato que é acometido. Um trabalho de ator primoroso em seus mínimos detalhes, digno de premio. Leonardo Netto é tão elegante quanto verdadeiro na pele do escritor irlandês.

E a precisa tradução de L.G.Bayão emoldura o belo cenário realista de José Dias, formando uma equipe de frente inspirada. Na retaguarda da cuidada produção, a tarimbada Melise Maia, a frente da Rímel Produções, assegura um acabamento primoroso ao espetáculo.


O BUCANEIRO recomenda com entusiasmo, lembrando que só até o dia 30 "Freud a Última Sessão" estará em cartaz no Shopping da Gávea. Imperdível. Em seguida a produção ganha a estrada e começa por São Paulo uma turnê que promete atravessar o país. É teatro de verdade. Freud live!