sábado, 24 de novembro de 2012

A LENDA VIVA DE UMA IPANEMA DOURADA



ARDUÍNO COLASSANTI , nascido em Livorno (Toscana), tornou-se carioca aos 11 anos quando veio morar com a tia, a cantora lírica Gabriela Bezanzone Lage, residindo no célebre Parque Lage ao lado da mana, a escritora Marina Colassanti. Foi nos anos 1960 que sua fama surgiu: pioneiro no Surf e na caça submarina, foi parar com sua beleza e charme no cinema brasileiro, onde fez 38 filmes e virou muso do Cinema Novo. Mas nem a timidez ou seu lado reservado impediram que se tornasse uma figura emblemática da época.

‘Assim que cheguei ao Rio, com 11 anos, comecei a freqüentar a praia do Arpoador, que junto ao Clube Marimbás e ao Iate Clube, foi um dos pólos que irradiou a caça submarina para o resto do Brasil’, conta ARDUÍNO.
              


A paixão incondicional pelo mar trouxe para ele uma identificação imediata com a cidade da ‘montanha, do sol e do mar’, como cantaram Tom e Billy. Ele trouxe para o bairro mais charmoso de então a epopéia do Surf, que anos depois seria o boom do esporte ipanemenho. Paralelo a diversos campeonatos mundias de caça, em uma da balsas vindas da Califórnia, chegaram às suas mãos as primeiras pranchas para a prática do Surf. E ARDUÍNO  deslizou nas ondas do Arpex com pinta de protagonista, e fabricou as primeiras pranchas de isopor de então. Assim, virou símbolo do bairro, ‘o Garoto de Ipanema’, pouco antes da consagração da ‘Garota’, mas plenamente identificado como tal.

                   

Lembro bem que lá por volta de 1967, ele virou ícone das areias douradas de Ipanema, ao mesmo tempo que estreava no Cinema Novo como ator-protagonista, pelas mãos de um dos cabeças do movimento: Nelson Pereira dos Santos. O filme foi “El justiceiro” , comédia elegante e charmosa sobre um playboy de Copacabana, que abusa do prestígio e do dinheiro do pai, um general. O filme foi proibido pela ditadura.
              

Mas Nelson Pereira remontou e o filme foi lançado. Ele aparece ao lado de Adriana Prieto, Márcia Rodrigues, Álvaro Aguiar e Rosita Thomaz Lopes naquele que foi o seu passaporte para tantos que se seguiriam, a maioria com o diretor: “Fome de amor”(1969), “Azyllo muito louco” (1969) e “Como era gostoso o meu francês” (1971), entre os principais.


                            


                            


Um ritual antropofágico celebrado pela tribo dos Tupinambás é o clímax do longa “Como era gostoso o meu francês”, inspirado em fatos verídicos ocorridos com o alemão Hans Staden e com o viajante francês Jean de Léry. O aventureiro francês do filme é ARDUÍNO, que contracena com seu pai Manfredo Colassanti e com Ana Maria Magalhães.


Fazendo jus ao título - “Fome de Amor”- namorou Leila Diniz dentro e fora das filmagens,  e outras atrizes igualmente estelares, como Sonia Braga, Regina Duarte e até Brigite Bardot. Do envolvimento com a atriz e escritora Ana Maria Miranda, nasceu Rodrigo.


Aos 76 anos e com a saúde debilitada, ARDUÍNO reside hoje em Jrujuba, Niterói, e está passando por dificuldades. Seus amigos, liderados por Ana Maria Magalhães e Luiz Carlos Lacerda, estão se mobilizando para ajudá-lo. 
Fica aqui a nossa solidariedade. Foco, força e FÉ!



  

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PAULINHO DA VIOLA, AS COISAS ESTÃO NO MUNDO...


           


‘...hoje eu vim, minha nega,
sem saber nada da vida,
querendo aprender contigo a
forma de se viver...
as coisas estão no mundo
só que eu preciso aprender’

Ele está atingindo a marca de 7.0 no circuito ‘vida terrena’. E o mundo do samba e do choro estão em festa, aliás, o Brasil, nega! É hora de homenagear Paulo César Batista de Faria, batizado pelo produtor cultural Sergio Cabral de PAULINHO DA VIOLA ! Alma delicada de príncipe, ele bebeu da fonte e trouxe para o samba de raiz moderno a essência dos grandes mestres somando o talento de poeta e sensível músico.

Humilde, mas inspirado, declara em seu samba favorito (e o meu também) que ‘as coisas estão no mundo só que eu preciso aprender’... Gênio.

                          

Carioca de Botafogo, passou a infância jogando pelada no asfalto da Pinheiro Guimarães com bola de  meia, ao mesmo tempo que presenciava fascinado as rodas musicais promovidas por seu pai, César Faria, violonista integrante do célebre conjunto de choro Época de Ouro. Ali conviveu com Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Tia Amélia e Canhoto da Paraíba, entre tantos  bambas.

Na praia do Leme, Copacabana, banho de mar em companhia do pai e do mano Francisco. Anos depois, apaixonado por sinuca, freqüentaria no bairro o Clube do Taco em noitadas e competições memoráveis.
                     

Aos 19 anos, trabalhando como bancário, atendeu o cliente Hermínio Bello de Carvalho e ali nasceu uma amizade e parceria pra vida toda, Hermínio foi seu descobridor. No Teatro Jovem, em Botafogo, virou músico do antológico show “Rosa de Ouro”, dirigido por Kleber Santos e escrito por Hemínio, e estrelado por Clementina de Jesus, Aracy Cortes e Época de Ouro.
E laços fortes se entrelaçaram com Zé Ketti, Cartola, Nelson Sargento, Élton Medeiros e outros.

                           

A paixão pela Portela vem desde cedo, em 1965 foi incorporado à ala de compositores da Escola e no ano seguinte assinou o primeiro samba-enredo, “Memórias de um Sargento de Milícias,  ambos vencedores do carnaval do ano.

Vista assim do alto
mais parece um céu no chão
sei lá,
em Mangueira a poesia fez-se um mar, se alastrou...’

Hermínio, brilhante farejador, inscreveu “Sei la Mangueira” no Festival da Record sem ele saber, e Paulinho causou com Elsa Soares defendendo sua linda ode à Estação Primeira de Mangueira. A repercussão seria ótima, senão tivesse ‘causado’ também uma reação negativa dos portelenses enciumados.
De saia justa, Paulinho se sentiu obrigado à dar o troco, reverenciando de viva-voz e inspiração uma composição à altura. Ficou matutando.  E aí...


‘...Não posso definir aquele azul
não era do céu, nem era do mar
foi um rio que passou em minha vida
e meu coração se deixou levar’

Foi um rio que passou em minha vida” tornou-se o maior sucesso de 1970 e também a mais importante música da obra impecável de PAULINHO DA VIOLAUm ano antes, ele compôs uma das músicas mais emblemáticas da década, sobre a incomunicabilidade das pessoas: “Sinal Fechado”,  quase falada, sussurrada na angústia e na solidão do mundo moderno.Em dueto com Chico Buarque, o sucesso nas paradas foi retumbante.


-'Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...

- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança.

- Por favor, telefone, eu preciso beber alguma coisa rapidamente...’

‘-Quando fiz “Sinal Fechado”, não pensava na importância que poderia ter para aquele momento ou para o futuro. Não tinha a pretensão de que atravessasse décadas e entrasse para a história como divisor de águas. A música foi feita num período da minha vida que parecia meio nebuloso, como se eu estivesse num sonho. A gente estava vivendo um momento difícil, mas não pensava em fazer música de protesto. Só algum tempo depois fui convencido que “Sinal Fechadosó poderia ter surgido naquele momento’, disse Paulinho.


Nos anos 70 fui entrevistá-lo para a coluna da Cidinha Campos no Jornal dos Sports. Seu apartamento ao lado do Cine-Veneza era todo ele mobiliado com móveis que ele próprio fez. As mesas, sofás, cadeiras, tudo passou pelas mãos do carpinteiro poeta de formas simples e anatomicamente suaves, tal qual o próprio.

Para celebrar os 70 anos de uma vida vitoriosa e tão harmoniosamente dividida com sua cidade, vamos assistir o vídeo do samba favorito do cara: “Coisas do mundo, minha nega”, em trecho de seu programa “Os Grandes Nomes – Paulo Cesar Batista de Faria”, realizado por Daniel Filho nos anos 1980, TV Globo. A primorosa letra fala de personagens e cenas legítimas do morro de então, o Zé Fuleiro durango, o seu Bento bebum e um corpo inerte no chão vitimado pela briga por um simples pandeiro. Coisas realmente do mundo, nega, recompensadas por 'aquele sorriso que tu entregas pro céu quando eu te aperto em meus braços...'

Na platéia famosa, Ângela Leal, Sonia Braga, Denise Bandeira, Renata Sorrah, Carlinhos Prieto e a filha Eliane Faria, cantora também, batendo cabeça pro Paulinho. Saquem só :


terça-feira, 13 de novembro de 2012

NOVOS RUMOS...



                             

Nosso blog  navega livremente em direção a  quatro anos singrando  mares da web...
nada dura quatro anos impunemente, acredito.
É com a bússola do amor&humor que guiamos a renovação visual e estrutural de nossa missão. O melhor está por vir... 

PENSANDO DOM HÉLDER CÂMARA


Humanista acima de tudo, DOM HÉLDER CÂMARA (1909-1999) foi bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro, quando denunciou torturas na ditadura.

"Ótimo que a tua mão ajude o vôo...mas que ela jamais se atreva a tomar o lugar das asas"
– são pensamentos inspirados como este que fazem Dom Hélder um poeta que a todos surpreende e encanta através do livro de poemas “Mil razões para viver” (editora Civilização Brasileira), de onde pinçamos sábias palavras de um poeta e pensador único.  


Partir, Caminhar
- Dom Hélder Câmara


Partir é, antes de tudo, sair de si.
Romper a crosta de egoísmo que tende a
aprisionar-nos no próprio eu.

Partir é não rodar, permanentemente,
em torno de si, numa atitude de quem,
na prática, se constitui centro do Mundo
e da vida.

Partir é não rodar apenas em volta
dos problemas das instituições
a que pertence.
Por mais importantes que elas sejam,
maior é a humanidade
a quem nos cabe servir.

Partir, mais do que devorar estradas,
cruzar mares ou atingir velocidades supersônicas,
é abrir-se aos outros, descobri-los,
ir-lhes ao encontro.

Abrir-se às idéias,
inclusive contrárias às próprias,
demonstra fôlego de bom caminheiro.

Feliz de quem entende e vive este pensamento:
”Se discordas de mim, tu me enriqueces”.

Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém,
quem concorda sempre, de antemão e
incondicionalmente, não é ter um companheiro,
mas sim uma sombra de si mesmo.

Desde que a discordância não seja sistemática
e proposital, que seja fruto de visão diferente,
a partir de ângulos novos,
importa de fato em enriquecimento.

É possível caminhar sozinho.
Mas, o bom viajante sabe que
a grande caminhada é a vida
e esta supõe companheiros.

Companheiro, etimologicamente,
é quem come o mesmo pão.

O bom caminheiro preocupa-se
com os companheiros desencorajados,
sem ânimo, sem esperança…

Advinha o instante em que se acham
a um palmo do desespero.
Apanha-os onde se encontram.
Deixa que desabafem e, com inteligência,
com habilidade, sobretudo, com amor,
leva-os a recobrar o ânimo e
voltar a ter gosto na caminhada.

Marchar por marchar não é ainda
verdadeiramente caminhar.

Para as minorias Abraâmicas, partir, caminhar
significa mover-se e ajudar muitos outros
a moverem-se no sentido de tudo fazer
por um mundo mais justo e mais humano.”