sábado, 26 de novembro de 2011

JOSÉ JOFFILY, A VOCAÇÃO PELA VIDA

Saindo do forno e adentrando as telas nacionais o novo filme de José Joffily - “Prova de Artista”, documentário que fecha a trilogia do cineasta sobre as vocações.

Depois da religião (“O Chamado de Deus”/2002) e da política (Vocações do Poder”/2006), chegou a vez do universo artístico musical matar a curiosidade de Joffily, um confesso curioso de carteirinha:
“- Os filmes são sempre feitos por conta de uma curiosidade que você tem sobre o que você desconhece. Sempre me despertou essa escolha profissional que faz parte da vida desde cedo, desde criança. E eu conheci isso de perto com minhas filhas...”

A curiosidade que se refere, está presente no foco de seus documentários anteriores, a câmera sempre buscando uma ótica mais subjetiva e sutil, que são flagradas com refinamento. A partir de registros de ensaios e dos momentos que antecedem e sucedem as muitas audições, “Prova de Artista” acompanha os conflitos, a paixão e a disciplina que envolvem a vida profissional de cinco jovens que escolhem o ofício da música. E também as relações do ambiente de trabalho entre solistas, maestro e orquestra.

São eles: Byron Hitchcock (violinista da OSB), Ricardo Barbosa (oboísta da OSESP), Rodney Silveira (violista da OSB), Catherine Carignan (fagotista) e Rodrigo de Oliveira (violinista da OFMG).

Nascido em João Pessoa no dia 27 de novembro de... epa, é hoje! – parabéns, amigo – José Joffily virou carioca de Copacabana cedo. Iniciou-se como fotógrafo nas revistas O Cruzeiro, Realidade e Placar. Mas o cinema o roubaria para todo o sempre a partir dos curta metragens que dirigiu: “Galeria Alaska” e “Copa Mixta”. Como roteirista esteve presente em filmes de alta qualidade, tipo “Terra para Rose”, “Avaeté”, “A cor do seu destino”, “O sonho não acabou” e “Parayba mulher macho”, entre outros. Assinou sua primeira direção em 1985, “Urubus e papagaios”, que lhe abriu caminho para uma trajetória de filmes marcantes, além dos documentários citados, as ficções “A maldição de Sampaku”, “Quem matou Pixote?”, “Dois pedidos numa noite”, “Achados e perdidos” e “Olhos azuis”, entre diversos outros.

Joffily é figura destacada da cinematografia brasileira contemporânea, seja como diretor, produtor, ator, escritor, professor ou articulador. Premiado diversas vezes, no Brasil e no exterior, é referencia também entre os jovens cineastas, muitos nasceram de suas mãos.

“Prova de Artista” chega às telas nesta semana no Rio e em algumas capitais. Um filme de José Joffily é sempre um convite à reflexão, vocacionado para a vida que é.

Fotos 2 e 4: Álvaro Riveros

Demais fotos: www.provadeartista.com

domingo, 20 de novembro de 2011

QUEM TEM MEDO DO MARCO REGULATÓRIO DAS COMUNICAÇÕES ?



São mais de dez anos que rola essa história, por que ?


A verdade é que está uma bagunça geral. A legislação no setor das comunicações é arcaica e defasada. A Constituição Federal de 1988 não tem referencia legal com temas importantes que estão sintonizados nos tempos atuais, e assim, acontece uma ausência de pluralidade e diversidade na mídia atual. Esta ausência também beneficia as poucas empresas que hoje se favorecem da grave concentração no setor. A restrição aos monopólios e oligopólios e a regionalização da produção se destacam no debate.

Todos os principais países democráticos do mundo têm seus marcos regulatórios para a área das comunicações, tipo Reino Unido, França, Estados Unidos, Portugal e Alemanha, além de alguns países da América Latina. No Brasil, o primeiro contragolpe é dizer que isso é a volta da censura. Será que neguinho sabe mesmo do que se trata ao dizer tal disparate? Para nós que passamos o pão que o diabo amassou em tal era, sabemos que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. O contra-argumento é leviano. Xô!

Interesses pessoais de empresários de jornais, editoras, redes de televisão e rádio, assim como (a presunção de) políticos influentes que usam de estratagemas para serem vinculados e prestigiados – um número cada vez maior deles possui emissoras e jornais - atrasam o processo da criação de um limite de ética, o Marco Regulatório das Comunicações. Mas ele está andando...

Estamos alvos de verdadeiros tsunamis de informações inúteis e tendenciosas que nos chegam diariamente, e a todos os minutos, re-pe-ti-da-men-te, agora também via internet. Os telejornais se copiam na editoria de noticias, claro, baseados no formato da Globo... As revistas semanais até que mantém uma independência, salvo Época e Carta Capital. O noticiário radiofônico é na maioria das vezes, xérox dos jornais, da tv e da internet. Tudo soa alienado e globalizado.

A presidenta Dilma está de butuca, mas opositores e articulistas consideram que o governo está indefinido em relação à causa. Chegam a espalhar que ela minimizou a questão ao dizer que “o controle da comunicação no Brasil se dá através do controle remoto, do dedo do telespectador...”

O fim da bagunça se anuncia. Em maio deste ano, aconteceu o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) no Rio de Janeiro, que realizou a I Conferencia da Comunicação (CONFECOM) sistematizada no Seminário Marco Regulatório – Propostas para uma comunicação Democrática – com a participação de entidades nacionais e regionais. Uma consulta pública recebeu mais de 200 contribuições, e assim, foi elaborada uma plataforma (publicada no Comunicacaodemocrativa.org.br) que apresenta 20 pontos considerados prioritários para a definição de um novo marco legal.

Os temas são pertinentes e estão bem elaborados, como o fortalecimento das rádios e tvs comunitárias – uma nova legislação deve garantir a estruturação de um sistema comunitário de comunicação.Outra: a proibição de outorgas para políticos em mandato serem donos de meios de comunicação objeto de concessão pública (estendendo-se a parentes e cônjuges). É abordado também a regulamentação da publicidade e os critérios de mecanismos de transparência para a publicidade oficial. A plataforma foi enviada como manifesto ao ministro das Comunicações Paulo Bernardo e está seguindo os trâmites para o Senado.

Essa “cidade sem lei virtual”de abusos autorais e outras extravagâncias pode estar com os dias contados. Paralelo, o Marco Civil da Internet, seus direitos e deveres em discussão, depois de assinado pela nossa presidenta, foi encaminhado ao Congresso. Agora, transita pela Câmara dos Deputados onde foi constituída Comissão Especial com o objetivo de analisar a matéria.

Vamos se inteirar da coisa pra não haver engano... A comunicação tem que estar a serviço da sociedade e não o contrário.


O VILÃO DE PATÓPOLIS



O colunista Tutty Vasques, em seu blog no Estadão, brinca com o quiprocó do momento que envolve o ministro do Trabalho, através do post O mal feito em pessoa, escrito na semana passada. Questionando a sua permanência no cargo, a crônica apresenta o ministro Carlos Lupi como um “fanfarrão eloqüente, pastiche da oratória de seu criador (referindo-se a Leonel Brizola), com esse aspecto de João Bafo-de-Onça, o arqui-inimigo do Mickey nos quadrinhos da Disney...” rsrsrs

Eureka! Como se parecem fìsicamente, né não? Viajei até a Disneylândia para digerir melhor tudo isso, e fui descobrindo que o terrível vilão de Patópolis, aprontou não só com Mickey, mas com Pateta, Donald, Margarida, Clarabela e, claro, tio Patinhas!

Ao lado do Máscara Negra e dos Irmãos Metralha, ele formou o trio barra pesada de Patópolis. Ladrão de bancos e golpista em 1925, João Bafo-de-Onça teve outra versão cinco anos depois: na Turma do Pateta não é vilão, mas um vizinho folgado e dominador. Era capaz de chegar na casa de Donald, abrir a geladeira e se esbaldar de comer sanduíches.

As semelhanças físicas podem se encontrar também no carisma que aproxima os dois, afinal João, mesmo vilão, é popular e querido pelos admiradores de quadrinhos, enquanto o ministro mantém-se com ar de segurança e controle da situação. Quem viver, verão.



sábado, 12 de novembro de 2011

IMAGINE - O MUNDO MAIS HUMANO





O aprendizado de conviver bem com a diversidade atinge vários segmentos na vida. Os distúrbios genéticos manifestados em síndromes, assim como a deficiência visual e auditiva, as doenças do câncer ou a paralisia infantil, alertam a sociedade para ela assumir um comportamento de humanidade, que deslancha em todos nós no dever da inclusão.

Os casos anônimos são muitos, eles são freqüentes entre conhecidos e familiares também. Quando eles ocorrem com personalidades conhecidas e alcançam os veículos de comunicação, tomamos consciência que estamos todos num mesmo patamar humano. Eles não só abrem o leque da igualdade, mas também ajudam a conquistar e interagir melhor com ação e aperfeiçoamento deste convívio geral.

“Imagine todas as pessoas compartilhando todo mundo...”

A síndrome de Down, em homenagem ao médico britânico dr Jonh Langdson Down, que a descreveu em 1862, atinge atualmente 1 a cada 800 nascimentos. Trata-se de um retardo mental leve a moderado. Ivy, a caçula de 6 anos do craque Romário, hoje deputado do PSB-RJ, esteve presente no colo do orgulhoso papai em março último na Câmara dos Deputados, celebrando o Dia Internacional do Distúrbio Genético.

“O objetivo maior é mostrar à sociedade que o preconceito contra a síndrome de Down deve ficar pra trás”, discursou Romário.

O senador Lindberg Farias (PT-RJ) participou do ato. Pai de Beatriz, também portadora da síndrome de Down, ajudou junto com sua mulher Maria Antonia a quebrar o preconceito: “Não se trata de uma doença, mas sim de uma alteração genética”, falou.

O empresário Roberto Justus e Ticiane Pinheiro são pais de Rafaella Justus, cuja síndrome eles não costumam falar.

O filho da atriz Isabel Fillardis nasceu com a síndrome de West, que causa atraso no desenvolvimento psicomotor. Seu adorado Jamal está sempre sob a atenção de sessões de psicoterapia, fanoaudiologia, terapia ocupacional e aulas de equoterapia (com cavalos). Fillardis, cuja dedicação é total, tem o amor condicional à flor da pele:
“Filho, você me ensinou muito sobre superação. Crianças especiais são como borboletas - têm o tempo certo de florescer, pôr as asas e sair do casulo.”

“Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz...”

Rafael, ou Rafinha, filho de Jô Soares e Teresa Austregésilo, hoje com 46 anos, é autista de alto nível, como o personagem de Dustin Hoffman em “Rain Man”. Aprendeu a ler aos 4 anos, fala inglês, toca piano e tem uma rádio em casa. Jô declarou em 2003: “Rafinha é diferente,mas eu não queria ter um filho diferente dele...”

A cantora americana Toni Braxton também tem um filho autista: Diesel. Ela é uma das mais conhecidas artistas que apóiam a Associação Americana de Autismo.

O ator Reynaldo Gianecchini, em tratamento contra um câncer linfático, é padrinho do Grupo de Assistência à Criança com Câncer de São José dos Campos, interior de SP.

Cadeirantes, deficientes visuais e auditivos são temas do seriado americano “Glee”, exemplo de como um programa pode ser bom e inclusivo ao mesmo tempo. Sucesso conquistado nos Estados Unidos, a série está sendo apresentada pela Globo aos sábados pela manhã com real interesse. Já está na terceira temporada brasileira.

Criado por Ryan Murphy, Brad Falchuk e Ian Brennan, “Glee” coleciona prêmios e indicações ao Emmy. A ação se passa numa típica escola de ensino médio americano com um professor idealista que cria um clube onde os participantes são em sua maioria, os diferentes.

“Você pode dizer que eu sou um sonhador.

Mas eu não sou o único.

Eu tenho a esperança que um dia

Você se juntará a nós.

E o mundo viverá como um só.”


O poeta John Lennom, inspirador de uma geração, dá voz e esperança na mensagem de “Glee” que ajuda o mundo a ser mais humano. Imagine.

E emocione-se...

Pesquisa: Blog Deficiente Ciente de inclusão e Cidadania

Foto 1: ilustração surrealista site Metamorfose Digital - Admin

Demais fotos: tio Google



terça-feira, 8 de novembro de 2011

DERCY LIVE !



A perereca da vizinha não está presa na gaiola, garanto. Ela está bem solta, pairando feliz sobre Madalena.

DERCY GONÇALVES (1907-2008), que foi bastante homenageada em vida terrena - de escola de samba a livro biográfico – agora, na vida eterna, será tema de uma minissérie na Globo e de um filme, ambos sendo gravados e rodados ao mesmo tempo sob a direção de Jorge Fernando. A estreia na telinha está marcada para 12 de janeiro de 2012, abrindo o pacote da programação de ano novo.

Cento e cinqüenta profissionais tomaram a cidade serrana (RJ) Santa Maria de Madalena por sete dias para registrar as primeiras cenas de “Dercy de verdade”, escrita por Maria Adelaide do Amaral, autora da bio da atriz. E a cidade ficou super animada, pois a ilustre nativa é muuuito querida pelos conterrâneos. No ar, o amor. Era ela vibrando no mais alto astral.

Fui convidado por Jorginho para uma participação, no papel do cunhado Zinho, casado com a irmã de Dercy, Bita (Rosí Campos), um cara mal humorado. Tirei a hnaca que me cobria de 3 anos sem atuar, e caí em seus braços de diretor de ator brilhante.

Nossa amizade começou em 1980 quando ele me convidou para trabalhar em sua estreia como diretor de teatro: “As 1001 encarnações de Pompeu Loredo”, de Vicente Pereira e Mauro Rasi. Foi quando vivi um desafio que me marcou a vida, e a nossa experiência foi tão rica que nasceu ali uma sintonia de amizade, respeito e admiração que dura até os dias de hoje.

Dirigindo Heloisa Perissé como a Dercy jovem, eu vi toques incríveis do diretor atento a minúcias e sutilezas da alma da grande artista. E Perissé, ou Lolô como todos a chamam, está armazenada, inteira, fazendo uma leitura sensível da revolucionária Dercy. Posso falar de cadeira que ser dirigido pelo Jorginho é um dos maiores prazeres que um ator pode ter. Ele sabe também proporcionar um clima de trabalho absolutamente harmonioso e criativo. Tudo flui com brilho.

Heloisa Perissé vive Dercy até os 50 anos, desde a saída de Madalena, mambembando com trupe de artistas, passando pela Praça Tiradentes, o cinema, vida afetiva, até a televisão, etc. Na fase madura, Fafy Siqueira assume o papel.


E a menina Dercy (1909) é vivida por Luisa Perissé, filha da mãe literalmente (!), que aos 12 anos faz seu debut na telinha. No córrego de Madalena, ela pega a perereca e vê a vizinha enxotando galinhas. Delícia pura.

A irmã de Dercy, Florípedes ou Bita, com quem o caixeiro viajante Zinho é casado, é defendida por Rosí Campos, uma das maiores atrizes paulistas do nosso tempo. Rosí é atriz pra 200 talheres, no olhar, um mar de emoções.

Eu tive tres encontros com Dercy em vida: quando a entrevistei nos anos 70 para a coluna de Cidinha Campos no Jornal dos Sports, quando a convidei para ser homenageada no Cabaré Sublime Tentação na Praça Tiradentes e na ocasião que insisti para que deixasse o amigo José Joffily registrar em filme o seu show no Teatro Miguel Lemos.

Na entrevista, ela me recebeu em casa. Estava cheia de gás, me contando suas aventuras na vida. Sempre transbordando sinceridade, me contou minuciosamente sua chegada à psicanálise quando viveu momentos de dúvidas existenciais. No cabaré, ela ficou emocionada de verdade, pois estava entrando no mesmo local (Cinema São José) onde colocou seus pés pela primeira vez no Rio, ali funcionou a Casa de Caboclo. Solta e comovida, contou passagens inesquecíveis para ela. E no filme, depois de muito rejeitar a ideia, acabou por autorizar a filmagem do Zé, sem caché ou direitos autorais.

Dercy vive! De verdade.


Fotos 3 e 5 : Divulgação TV Globo (reprodução)

Fotos 1, 2, 4, 6 e 7: LSLS