terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2014 - UM NOVO SONHO, UM NOVO CÉU


 - A todos os amigos, grato pela presença e...um Feliz Sonho Novo !


Fazer um céu com pouco a gente faz


Basta uma estrela,





Uma estrela e nada mais


Pra ter nas mãos o mundo


Basta uma ilusão


Um grão de areia


É o mundo em nossa mão


Sonhar é dar à vida nova cor


Dar gosto bom às lágrimas de dor


O sol pode apagar
O mar perder a voz


Mas nunca morre um sonho bom dentro de nós.



*Fazer um céu de Mario Lago


sábado, 21 de dezembro de 2013

ANA CAROLINA, ELA ESTÁ DE VOLTA



Depois de onze anos sem filmar, ela está de volta. A cineasta ANA CAROLINA, associada a produtores portugueses, estreia nesta semana em Lisboa e Santarém o seu mais novo filme, “A Primeira Missa”, inspirado no famoso quadro de Victor Meirelles (1832-1903).

Desde o doc “Getúlio Vargas”(1974) – considerado o melhor documentário sobre o estadista – até seus instigantes filmes de ficção, “Mar de rosas”, “Das tripas coração”, “Sonho de valsa”, “Amélia” e “O Boca do inferno”, soma-se quarenta anos de caminhada. Foi osso.


Eu estava em Sampa nos anos 70, quando um amigo precisou trocar um cheque – ainda não existia o dinheiro de plástico -  com uma amiga de sua amiga Lucília, da Cinemateca. A amiga era ela. Quando entrei em seu apartamento na Avenida Angélica, babei na gravata, pois me deparei com uma Marisa Berenson  trajando um palazzo-pijama de transparências esvoaçantes (risos), solta, bem humorada e linda  que regava as plantas no jardim de inverno ao som de Vivaldi...Bateu.

Quando foi lançar seu primeiro ficção, “Mar de rosas” (1977), me convidou para fazer o lançamento. Não foi difícil para mim, então divulgador azeitado, pois o produto em si era estimulante, provocativo, inovador e assim...foi um tiro.


“Mar de rosas” caiu como uma dinamite nas telas brasileiras e internacionais. O road-movie estiloso que ela realizou era tudo que o cinema brasileiro de então precisava.
Em Paris foi um acontecimento. Fui entrevistar Norma Bengell para a confecção do press-release, mas foi um fiasco.Assim que eu saí de seu apê no Jardim Botãnico, ela  telefonou pra CAROLINA pedindo que a fita que eu gravara fosse devolvida e não usada: ela achou que eu era um agente da Cia...

Resolvemos focar o lançamento em Cristina Pereira, a Betinha endiabrada filha da protagonista dona Felicidade, autêntica revelação que foi. Pedi um help à minha amiga Elda Priami, então redatora do Caderno Ela de O Globo, que fez matéria de peso de uma página. As duas acabaram grandes amigas. E “Mar de rosas” bombou.


Atriz-fetiche presente em três filmes (“Mar de rosas”, “Das tripas coração” e “Amélia),
Myrian Muniz traduz com fidelidade a inquietação da cineasta, que está em constante movimento sob emblemáticos signos de abismos e indagações , o discurso essencial de sua obra. Myrian Muniz, uma força da natureza. Em “Amélia” (1998), o enredo, que mistura ficção e realidade, revela a crise profissional e pessoal da atriz francesa Sarah Bernhardt (Beatrice Agènin), quando induzida por sua camareira Amélia (Marília Pêra), apresenta-se no Brasil, em 1905. Entretanto, Amélia morre de febre amarela e a Divina Sarah passa a conviver com suas exóticas irmãs. ANA CAROLINA aborda assim a relação entre colonizados e colonizadores com o humor ácido habitual.


O poeta baiano Gregório de Mattos (1636-1696) foi o tema de seu último filme “Gregório de Mattos, o Boca do Inferno” (2002), rodado todo no Forte de Santa Cruz (Niterói) e que retrata momentos de sua vida através de seus versos. O personagem feito por Wally Salomão (1943-2003), poeta e agitador cultural, recriou a inquietação da alma gregoriana...Além de Guida Viana, Ruth Escobar, Elisa Lucinda, Virginia Rodrigues e Rodolfo Bottino, o filme contou com a auspiciosa  estreia de  Marília Gabriela na telona, que narra a história e vive uma abadessa que teria sido amante do poeta. Os cascudos aprovaram.
  

O quadro A Primeira Missa no Brasil foi pintado em 1860 (mais de três séculos depois do evento real)  pelo catarinense Victor Meirelles, sob encomenda do Imperador Dom Pedro II. Uma riqueza grande de  símbolos emoldura a qualidade técnica e estética da obra, tendo ao centro da tela a cruz que domina a composição, dividida pela presença dos conquistadores à direita, os portugueses, e dos indígenas, os conquistados, à esquerda e ao pé da tela. É um prato, já saboreado pela cineasta em “Amélia”.


Menos pomposa e eloqüente, a leitura cinematográfica de ANA CAROLINA passeia pelo olhar crítico que deposita como de hábito ao criar uma tragicomédia inspirada no célebre quadro. Ela deixa escapar para o jornal O Estado de São Paulo apenas como pista a frase: “O filme tem aquela minha natureza que você sabe...”
É o Brasil com a oficialização da posse, quando Pedro Álvares Cabral faz rezar a primeira missa, que inscreve a terra, recém-descoberta, na tradição ocidental-cristã. Essa integração carrega uma conotação cultural e outra econômica, que vai criar uma dependência do índio, da terra ocupada.


Com elenco na maioria de atores portugueses, o núcleo brasileiro se faz presente com nomes tão diversos quanto os de Fernanda Montenegro, Alessandra Maestrini , Arrigo Barnabé e Rita Lee, assim como o do novato Dagoberto Feliz.


CAROLINA declarou ao Estadão ter ficado entusiasmada com as atuações lusas, destacando os atores Rui Unas, Pedro Barreiro, Ricardo Silva e Marcantonio Del Carlo: “Me acostumei com os nossos atores, que são grandes, mas a capacidade de invenção dos portugueses me deixou louca. Eles são de um profissionalismo extraordinário, e ao mesmo tempo,  respondem aos estímulos e embarcam na viagem da gente.”


O melhor está por vir. Começar o ano com um novo longa assinado por ANA CAROLINA é a  melhor notícia que o cinema brasileiro poderia ter, fala sério. O lançamento nacional está marcado para 4 de março de 2014.
Cumprindo o compromisso com os co-produtores portugueses - a Ibermédia e Jose Fonseca e Costa – de realizar duas pré-estreias em Portugal, exibiu em Lisboa o filme nessa semana em sessão fechada numa sala que pertence á cadeia de Paulo Branco, ex-produtor de Manoel de Oliveira.
Neste sábado (dia 21) será apresentado em Santarém, a convite da prefeitura, terra onde nasceu e está enterrado Pedro Álvares Cabral. Bestial!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

ZELIA HOFFMAN, UM SHOW DE MULHER

 
         

Com este sorriso super cativante, ZELIA HOFFMAN (1924-2007) marcou uma época de ouro na vida cultural do Rio de Janeiro.Elegante, bela e muito charmosa, ela foi modelo, vedete e atriz do teatro de revista, de shows de boate, da televisão e do cinema, e personalidade da vida social da cidade, onde brilhou como promote;  e  também destacou-se como desfilante de fantasias do célebre Baile de Carnaval do Teatro Municipal, obtendo o primeiro lugar diversas vezes.

Nascida em Vila Isabel, Zélia Bittencourt Ribeiro tornou-se logo figura de destaque do Salgueiro nos primeiros contatos com o universo do carnaval carioca. Em 1963, recusou-se  a vestir a fantasia de Xica da Silva, o tema vitorioso da Escola daquele ano,  por achá-la pesada, o que deu oportunidade  à Isabel Valença, mulher do presidente  Osmar Valença, de se tornar a maior figura feminina do Salgueiro.


Casada com o empresário Sylvio Hoffmnan, ganhou não só o sobrenome, mas o posto de relações públicas do Restaurante La Fiorentina, no Leme, o point dos artistas do Rio, e, segundo a imprensa da época, tornou-se musa da cidade por sua presença  sedutora e envolvente que atraía a classe artística...

Fundado em 1957, diz-se que Sylvio Hoffman levou seu amigo Pablo Picasso ao restaurante e por ter assinado seu nome em guardanapo, Hoffman vendeu o autógrafo e pôde se tornar o proprietário único na sociedade. As colunas com autógrafos das celebridades que passaram por lá reúnem nomes eternos que vão desde Pelé, Bibi Ferreira, Rock Hudson, Linda Batista, Jece Valadão e Leila Diniz até Ney Latorraca, Clara Nunes, Ary Barroso, Claudia Raia e tantos e tantos...


Como figura  bem relacionada na Alta Sociedade (ela foi amiga da milionária  Dana de Teffé, assassinada nos anos 1950 no famoso Crime do Sacopã), ZELIA HOFFMAN  desfilou  fantasias de luxo no concurso do Teatro Municipal, ao lado de Clóvis Bornay, Wilza Carla, Evandro de Castro Lima, Mauro Rosas e Marlene Paiva. Em 1958, tirou o primeiro lugar com a fantasia Bela Otero, e saiu na capa da revista Manchete.


Foi na TV Rio que brilhou em programas humorísticos antológicos, tipo “O riso é o limite”, “Chico Anysio Show”, “Teatro Psicodélico”, “Noite de Gala”, “Moacyr Franco Show” e “Noites cariocas”. Neste, ela era a Zazá do delicioso quadro de cabeleireiro protagonizado por Antonio Carlos:

Eu sou Zazá do Joá, eu sou Zezé que não quer, eu sou Zizi,...Eu sou Zozó, maior!”, ao lado de Sandra Sandré, Isa Rosdrigues e Rose Rondelli. E também cantava e dançava  no quadro principal de “Noites Cariocas”, o “Café Bola Branca” de Haroldo Barbosa.
Com Moacyr Franco (foto), levava uma cantada do motorista de táxi malandro e tarado, em quadro histórico:
 “A viatura tá aí, não custou nem cinco  nem dez conto.Vamos? ...”


ZELIA ganhou popularidade na época com o primeiro personagem de sucesso de Chico Anysio, o Coronel Limoeiro, em “Chico Anysio Show”.Em 1963, este foi o programa que celebrou com entusiasmo a chegada do mágico vídeo-tape, recurso que possibilitou o genial comediante contracenar consigo e  criar a sua melhor galeria de tipos.

E ela era a Maria Teresa, que jurava fidelidade para o marido, um poderoso coronel machista traído pela mulher leviana e aprontadora. ZELIA tirava partido com a elegância de sempre. O sucesso da dupla foi tão grande que os dois tornaram-se na época motivo de comentários nas esquinas da vida, inclusive, associando-os a um político conhecido e sua mulher...
Maria Tereeesa, quer dizer que continuas a mesma?! Era o bordão.


No final da década de 50, a TV Rio ocupava um prestígio enorme no panorama televisivo carioca, apresentando uma programação estilosa de  alto nível sob o comando de Walter Clark (e também de Boni), amparada por um cast de primeira. Foi nesse momento que a TV Excelsior, pronta para ser inaugurada, assaltou o canal 13, varrendo todo o seu elenco  pelo dobro dos salários. Atores, comediantes, bailarinos, redatores, diretores, técnicos e produtores musicais debandaram. A emissora ficou pelada da noite pro dia. Iniciou assim a era Excelsior, que duraria 10 anos


Pelas mãos do empresário Wallace Simonsen, a  televisão brasileira ganhou ares industriais, e pela primeira foi usado o sistema de rede. Os programas de humor plantados pela Tupi e pela Rio, tornaram-se luxuosos  musicais humorísticos que brincavam com a Broadway, com os musicais do cinema americano e as comédias da Atlântida e Herbert Richers.

 “A cidade se diverte”, “My fair Show”, “A Grande Revista”, “Viva o Vovô Deville” e...“Times Square”, este o maior programa de todos. Dirigido por Carlos Manga e Paulo Celestino, e feito ao vivo do auditório de Ipanema (Cine Astória), o musical trouxe a magia dos musicais para a telinha - ainda  preta &; branca - com molho carioca ao sabor da fantástica trilha musical de João Roberto Kelly. Agora nossos artistas também cantavam e dançavam além de esquetes e piadas.


“Samba de branco tem conta no banco, tem Cadilac, mordomo e chofer. Samba de branco  não é um qualquer, mas também mas também tem mulher!”

“Samba de branco” era o famoso quadro final , primo rico do pioneiro Café Bola Branca. Dez comediantes tarimbados participavam:  Hamilton Ferreira e Lilian Fernandes, Daniel Filho e Dorinha Duval, Waldir Maia e Isa Rodrigues, Paulo Celestino e ZELIA HOFFMAN. Um tanto o quanto racista, o grupo elitista de smoking e soirée torcia o nariz quando chegavam Aizita Nascimento e Grande Otelo trazendo o samba do morro.:“Ih, lá vem crioulo!”No final,  todos sambavam e dançavam coreografia frenética, proclamando a integração geral e irrestrita.
“Samba de branco não é um qualquer mas também mas também...
Mas também tem mulheeeer! Oba!”


Na filmografia da atriz,  mais de dez filmes rodados. O primeiro foi “No mundo da lua” (1958), o segundo que Roberto Farias dirigiu. Entre os principais, “As 7 Evas”, “Sangue na madrugada”, “Se meu dólar falasse”, “Soninha toda pura”, “Nós, os canalhas” e “Varão de Ipanema”. Em 1970, atuou no último filme de Adhemar Gonzaga, “Salário mínimo”.

Com seu amigo Carlos Manga fez um grande sucesso de bilheteria estrelado por Oscarito: “Pintando o Sete”.Na pele de um falso pintor, Picanssô, ele vende seus quadros e ainda conquista os corações de Sonia Mamede, Maria Pétar, Ilka Soares e ZELIA HOFFMAN.
      

Conheci ZELIA nos anos 70 através de Rose Rondelli, sua grande amiga.Era uma pessoa muito leve, agradável e de bem com a vida. Não tinha mágoas. Gostava de sair, de estar com as pessoas.E gostava de cantar, especialmente Cole Porter. Em um pub em Copacabana fez temporada descompromissada, pelo simples prazer de cantar.

Ela e Rose adoravam lembrar os tempos da TV Rio, quando tinha um Cadillac conversível amarelo, já pensou? E passeavam pela Avenida Atlântica  seguidas por bando de  gaviões e  transviados...
Era comum para elas,  dar um tibum no mar do Posto 6, antes dos ensaios dos programas.

Vedete na vida, ZELIA HOFFMAN era um show de mulher.

Fotos restauradas: Paulo Borzino

sábado, 30 de novembro de 2013

POSTER DA SEMANA



renata sorrah

FERNANDA TORRES: FIM É O COMEÇO



Apesar de escrever artigos e crônicas para jornais e revistas, FERNANDA TORRES nunca tinha pensado em escrever um livro. Aconteceu por acaso, quando o cineasta Fernando Meirelles lhe propôs escrever um conto para ser filmado. O projeto gorou, mas ela já tinha embarcado na ideia, e foi em frente. Assim, nasce uma nova romancista com o lançamento de “Fim” (Companhia das Letras).


A capa é foto aérea da praia de Copacabana, assinada por Cássio Wanderley

Surpreendendo sempre, ela foca o romance no universo masculino.E fala da finitude.
A ação se passa  em Copacabana por onde transitam cinco amigos coroas: Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher; Silvio é um junkie que não larga os excessos de droga e sexo nem na velhice; Ribeiro é um outro de porte atlético que ganhou sobrevida sexual com o Viagra; Neto é o careta da turma, marido fiel até os últimos dias; e Ciro, o Don Juan invejado por todos – mas o primeiro a morrer, abatido por um câncer.


Fernanda Montenegro não podia faltar na estreia da Nanda

O colunista Mario Sergio Conti fez uma resenha entusiasmada para o Segundo Caderno de O Globo, anunciando tratar-se “de uma estreia extraordinária na difícil arte do romance”.  Estou super curioso para ler, pois FERNANDA TORRES, além de ser uma das melhores atrizes brasileiras, tem escrito crônicas interessantíssimas para o jornal Folha de São Paulo.Visionária e talentosa do jeito que é, duvido que isso não vá longe. Fim que é um grande começo.


Andrea Beltrão, a parceria Sueli de "Tapas & beijos" prestigiou Fernanda Fátima Torres

Depois do lançamento semana passada na Livraria Travessa do Leblon, acontece neste domingo uma manhã de autógrafos no Quiosque da Globo (em frente ao Hotel Othon) no calçadão de Copa.

Fotos: O Globo e Companhia das Letras

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

TOMIE OHTAKE FAZ 100 ANOS



A Arte Oriental, em especial a Japonesa, mostra o peso da sua importância nas Artes Plásticas mundiais através dela: TOMIE OHTAKE. Ela é a mais nova Centenária a celebrar o seu nascimento hoje,  nascida em 21 de novembro de 1913, em Kyoto, Japão. Salute!

Desde o início do ano, diversas homenagens pipocam na agenda cultural brasileira, principalmente em São Paulo, cidade que vive desde a chegada em 1936.
Pintora japonesa  naturalizada brasileira, TOMIE tem uma obra espetacular em pinturas, gravuras e esculturas que lhe deram prêmios e consagração internacional.


Quando revelou ao pai aos oito anos que queria ser artista, não recebeu aprovação. E assim segurou seu desejo por muitos anos, precisamente até 1952 quando iniciou-se na pintura com o artista Keisuke  Sugano. Após breve período na arte figurativa, definiu-se pelo abstracionismo, tornando-se  pioneira como Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Rasuo Wakabayashi.


TOMIE conheceu o agrônomo Oshio Ohtake através de seu irmão. Casaram-se e um ano depois nasceu o arquiteto Ruy Ohtake. Em 1944, o segundo filho: o designer Ricardo Ohtake, que hoje preside o Instituto Tomie Ohtake. Sempre rodeada pelos rebentos, ela desenvolveu uma parceria constante em sua monumental obra.


A sua escultura Estrela do mar foi doada pelo extinto estaleiro Ishibrás ao governo do Rio de Janeiro, e ficou instalada de 1985 a 1990 no espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas, altura do Parque da Catacumba. Com 20 metros de diâmetro e 17 toneladas, a obra tornou-se polêmica. “-É um polvo, uma flor??” criticavam... Ao  mesmo tempo que agradou o professor Darcy Ribeiro, então vice-governador, foi considerada “sem graça” pelo cronista Rubem Braga. Removida para reforma, a obra desapareceu.

A Estrela do Mar tinha o corpo amarelo, cor que chamou a atenção de TOMIE OHTAKE quando chegou ao país: “Brasil tem sol muito claro. Quando saí do navio, olhei para o céu e senti cheiro de amarelo”, diz a artista.


O Complexo Ohtake Cultural, localizado em Sampa, é um mega empreendimento do Grupo Aché que integra trabalho, cultura e lazer com escritórios, salas de exposição, centro de convenções, auditório, teatro, cinema e restaurante. Arquitetura de vanguarda com formas futuristas no traço autoral do arquiteto Ruy Ohtake, integra o Instituto Tomie Ohtake, que preserva e difunde a obra de TOMIE com tecnologia de ponta do setor da construção.


No início da década de 1960, a Dama das Artes Plásticas, como ela é conhecida, vedava os olhos para pintar, como se buscasse ajustar seu olhar ao ponto cego e a partir daí se engajar na experiência ímpar. São as Pinturas Cegas de TOMIE OHTAKE. Vinte e quatro telas reunidas em expô no Museu de Arte do Rio (MAR) acaba de ser inaugurada. Imperdível.

São obras de formas livres, como um “oceano”, em predomínio de brancos, pretos e cinzas – mas há também o marrom, que remete à cor das primeiras abstrações de TOMIE; o vermelho, azul, verde. Por vezes, é como se víssemos um certo grafismo nos trabalhos, o que é a referencia à formação do desenho (e do ideograma) no Japão da artista.


São Paulo abriga diversas esculturas criadas por ela, cada uma mais surpreendente que a outra. A artista homenageou os 100 anos de imigração japonesa  no Brasil com esta escultura de nove metros de diâmetro instalada no lado externo do Aeroporto de Cumbica.


A impactante tapeçaria foi realizada a convite de Oscar Niemeyer, arquiteto do Memorial da América Latina. TOMIE quis valorizar as curvas da base do auditório, e por isso, pensou no desenho em quatro cores: “Quis manter a unidade plateia-palco-plateia”, disse ela em entrevista publicada no livro Integração das Artes, editado pelo Memorial, em 1990.


São múltiplas  homenagens  em todo o país pelo centenário desta artista única ainda em atividade. O Instituto que leva o seu nome apresenta uma exposição retrospectiva com 60 obras, desde as paisagens que marcaram o início de sua carreira, até as mais recentes pinturas. A exposição chama-se Gesto e Razão Geométrica.

Para o crítico Frederico Morais, ela soube equilibrar a tradição japonesa e a vivência no Brasil: “A arte de  TOMIE nunca foi muito expansiva, excessivamente lírica. É contida, nipônica. A pintura dela é como ela mesma: de poucas palavras”...
 

domingo, 10 de novembro de 2013

ALAIN DELON, A LENDA


  “...Se eles são tão lindos, sou Alain Delon”
    (“Balada do Louco” de Arnaldo Baptista e Rita Lee)


“Você pode ser um lindo matador...mas nunca será Alain Delon”
(“Beautiful Killer” de Madonna)                            

Não, nunca existiu ator mais belo que ALAIN DELON, assim diria aquela velha Madrasta do espelho... Sua beleza o transformou em símbolo sexual dos anos 60 e 70, paralela a uma carreira de excelente ator do cinema europeu.

Nascido em 8 de novembro de 1935 em Sceaux, Borgonha,  ele acaba de completar 77 anos de uma vida bastante agitada sob os holofotes do cinema e da sociedade contemporânea. Uma lenda.


Depois de trabalhar como porteiro, garçon e vendedor em Paris, ALAIN DELON foi parar no Festival de Cannes, em 1957, acompanhando o amigo Jean Claude Brialy, onde chamou a atenção por sua beleza dos produtores e dos paparazzi. Foi seu passaporte para a Sétima Arte. Dois anos depois estrelou seu filme mais importante: “O Sol por Testemunha” (“Plein Soleil”), ao lado de Marie Laforêt e Maurice Ronet, dirigido por René Clément.


Baseado no romance “O talentoso Ripley” de Patrícia Highsmith, DELON se impõe no eletrizante filme, compondo seu frio e calculista personagem no fio da navalha. Nem parece um estreante no cinema. O filme é considerado um clássico do cinema noir invertido  - o sol toma o lugar das sombras da noite e deixa marcas...


O efeito causado por sua explosiva estreia foi geral. Até Hollywood ficou mexida com seu carisma e logo dobrou a cota na divulgação dos galãs americanos, tentando desbancar a soberania europeia de ter o ator mais belo...até o poderoso David Selznick lhe ofereceu contrato desde que aprendesse inglês. Mas DELON preferiu ficar. E assim, com a repercussão de seu primeiro trabalho, chamou a atenção de Luchino Visconti, que o convidou para estrelar “Rocco e seus irmãos” (1960), primeiro êxito de bilheteria do grande diretor italiano.

A saga de uma humilde família de calabreses que emigra para Milão, consagra o protagonista, que atua ao lado de Anie Girardot (a prostituta Nadia) e de Renato Salvatore (o irmão Simone). DELON/Visconti tiveram outro encontro três anos depois em “O Leopardo” (“Il Gattopardo”).


O filme abiscoitou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1963. A atmosfera dos palácios da aristocracia durante a unificação da Itália, em 1870, tão bem retratada por Viconti, proporcionou a Burt Lancaster a sua melhor interpretação no cinema. Está na boca de DELON como o cínico sobrinho Tancredi a frase determinante do filme: “Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude,” referindo-se ao seu casamento encomendado com a milionária Claudia Cardinale.


Um dos maiores sucessos de bilheteria da carreira ele teve com “A piscina” de Jacques Deray (1969), ao lado de Romy Schneider e Maurice Ronet, novamente envolvido em triângulo amoroso com ele. Seu casamento de cinco anos com Romy já tinha acabado no lançamento do filme, mas o trio está afinado na tela.


A coleção de mulheres em sua vida é vasta. O casamento com Nathalie Delon em 1964  rendeu filmes e um filho, Anthony. Mas a fila anda com DELON. Depois de 5 anos, casou-se com Mireille Darc.


Anthony Delon, igualmente ator,  é também muito bonito, mas a opiniões  excelentes sobre seu talento de ator sempre caem na comparação ao pai. Iniciado nas artes pelas mãos de Andy Wahrol, Anthony foi levado a uma sessão de fotos para a Life Magazine. Alberto Lattuada, na ocasião, levou-o para Roma, onde começou a rodar.


Outro momento marcante na trajetória de ALAIN DELON foi quando atuou com MichelangeloAntonioni, no filme “O Eclipse” de 1962, o último da trilogia iniciada por “A Aventura” (1960) e “A Noite” (1961). Ao lado Mônica Vitti, ele viveu um jovem corretor da bolsa de valores ambicioso e materialista. O filme levou o Premio Especial de Cannes, mas quem ganhou a Palma de Ouro naquele ano  foi o brasileiro “O pagador de promessas” de Anselmo Duarte.


Foi em Cannes que Norma Bengell e DELON se conheceram, e começaram um romance que isolou a atriz de trabalhos que lhe foram ofertados depois da elogiada atuação no longa brasileiro.No ano passado, ao ditar sua biografia inacabada, Norma Bengell  disse: “Ele era muito esquisito, o que agora a gente chama de bissexual.”


Foi em 1997 que ele anunciou que pararia de atuar, decepcionado com os rumos do cinema francês. Resistiu até 2008, quando reapareceu na telona como o conquistador romano Julio César no filme “Astérix nos Jogos Olímpicos”.

DELON possui vários produtos com o seu nome: roupas, perfumes, óculos e cigarros.


Em entrevista à revista Paris Match neste ano, declarou que perdeu a paixão pelo mundo que o rodeia e que  passa a maior parte do seu tempo “a toa”, rodeado de seus animais de estimação, dos filhos e dos netos:

“O mundo atual não me agrada mais. Nada me excita realmente, e eu era uma pessoa apaixonada. O que falta é vontade, paixão.Mas vou despertar, talvez.”