OOOOH, QUE DELICIA DE NORMA !

Ela se fez deliciosa, a gostosa das gostosas...e com talento de grande atriz que canta, dança, dirige filmes e transita na comédia ou no drama com igual desenvoltura.

                                 

NORMA BENGELL, carioca de Copacabana, é uma das mais importantes atrizes brasileiras de todos os tempos e a primeira artista, depois de Carmen Miranda, a  se afirmar como atriz no mercado internacional do cinema.

                                   

Dos shows do Rei da Noite Carlos Machado na boate Night And Day, (“Banzo-Aiê”, “Rio...de janeiro a Janeiro”, “Mr Samba” e “The Million Dollar baby”) a escultural vedete NORMA BENGELL foi descoberta pelo cinema brasileiro popular (“O homem do Sputinik”, 1959) e mostrou que era uma atriz de verdade, brincando de Brigite Bardot em composição refinada. O diretor Carlos Manga acreditou nela e acabou lhe proporcionando uma estreia cinematográfica de peso, onde ela atuou de igual pra igual com estrelas do calibre de Oscarito, Zezé Macedo, Cyll Farney e Neyde Aparecida.

                               

Mas a vedete se tornou atriz mesmo quando o sofisticado Cinema Novo lhe deu um grande momento de atriz em “Os Cafajestes”, protagonizando a primeira cena de nu frontal, sendo estuprada pelo cafajestaço Jece Valadão. NORMA, além do corpão, provou que era atriz dramática, usando e abusando de olhar melancólico e interpretação novellevaguiana... Arrasou. A cena foi contestada pela sociedade tradicional e também pela igreja católica. Mas...tornou-se um clássico do cinema brasileiro.

                        

“Os Cafajestes” (1962) marcou a estreia de Ruy Guerra na direção e também tornou-se  um dos filmes-referencia do Cinema Novo. A juventude transviada de então era tema principal do comportamento de uma geração. Na trama do filme, dois playboys – Jece e Daniel Filho - aprontam todas para extorquir grana do tio de Leda, a personagem de NORMA BENGELL. O filme causou.

                                 

O melhor estaria por vir para esta atriz emblemática...Anselmo Duarte lhe conferiu a prostituta Marly de “O Pagador de Promessas”, o filme que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1962. E ela se saiu tão bem que foi descoberta pelo cinema europeu, fixando residência na Itália.

São 50 anos da premiação em 2012 do filme e o Jornal Nacional, da Globo, fez matéria especial na semana passada  sobre. Com imagens raras da premiação em Cannes, NORMA apareceu em destaque, super glamurosa, ao lado de Anselmo, Leonardo Villar e Gloria Menezes. Mas...sequer seu nome foi citado...

                                 

Casou-se com o ator italiano Gabriele Tinti e fez no cinema europeu dezenas de filmes, entre eles “Il Mafioso”, comédia de Alberto Lattuada estrelada por Alberto Sordi, pontuando também em Hollywood em filme com Georges Segal.

 Depois do término do casamento de 20 anos com Tinti, voltou ao Brasil. Caiu de paraquedas na ditadura militar e foi perseguida pelo regime por sua bandeirosa contestação. Virou ativista política, uma Jane Fonda dos trópicos. Parava os espetáculos teatrais e lia manifestos, convocando a plateia para passeatas de protesto. Ao lado de Tonia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara  e Cacilda Becker marcou presença na Passeata dos Cem Mil contra a censura.

E cantava cantava lindamente. Timbre e afinação de cantora profissa. Em 1959 gravou pela Odeon o LP “OOOh Norma!” com bossa nova e standarts americanos. Luxo só. Em 1977 gravou “Norma canta mulheres” com repertório feminino que ia de Chiquinha Gonzaga à Rita Lee, passando por Gloria Gadelha, Marlui Miranda, Joyce, Maysa, Dolores Duran e Sueli Costa.

                         
No cinema  brasileiro fez filmes marcantes, desde “Conceição” de Helio Souto, “Mulheres & Milhões” de Jorge Ileli, “Noite Vazia” de Walter Hugo Khoury, “Rio Babilônia” de Neville de Almeida, “ A cor do seu destino” de Jorge Duran até a estreia de Ana Carolina em ficção, no genial “Mar de Rosas” (FOTO), vivendo a protagonista Felicidade –  “ai, que saudades de uma coisa que eu nunca tive!”

                     

Hoje, aos 77 anos, cadeirante e sem a aposentadoria, NORMA BENGELL  vive em seu apartamento na Gávea muito debilitada da saúde e com problemas financeiros. Tenta escrever sua biografia e anuncia a venda de seu acervo fotográfico para levantar alguma grana.

No auge de sua carreira, encontrou Dick Farney, o maior cantor romântico moderno, no projeto “Meia-noite em Copacabana”. Os dois cantaram e se encantaram. E eternizaram a bossa nova “Você” de Roberto Menescal e Ronaldo Boscolli. Na gravação, mixada de maneira que favorece ela, dá pra sentir a delicia de uma interpretação moderna, intimista e sensual. Até o Dick curte quando ela solfeja com segurança de cantora.

Deliciem-se pois.  

Voxê, hein ?