quinta-feira, 15 de novembro de 2012

PAULINHO DA VIOLA, AS COISAS ESTÃO NO MUNDO...


           


‘...hoje eu vim, minha nega,
sem saber nada da vida,
querendo aprender contigo a
forma de se viver...
as coisas estão no mundo
só que eu preciso aprender’

Ele está atingindo a marca de 7.0 no circuito ‘vida terrena’. E o mundo do samba e do choro estão em festa, aliás, o Brasil, nega! É hora de homenagear Paulo César Batista de Faria, batizado pelo produtor cultural Sergio Cabral de PAULINHO DA VIOLA ! Alma delicada de príncipe, ele bebeu da fonte e trouxe para o samba de raiz moderno a essência dos grandes mestres somando o talento de poeta e sensível músico.

Humilde, mas inspirado, declara em seu samba favorito (e o meu também) que ‘as coisas estão no mundo só que eu preciso aprender’... Gênio.

                          

Carioca de Botafogo, passou a infância jogando pelada no asfalto da Pinheiro Guimarães com bola de  meia, ao mesmo tempo que presenciava fascinado as rodas musicais promovidas por seu pai, César Faria, violonista integrante do célebre conjunto de choro Época de Ouro. Ali conviveu com Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Tia Amélia e Canhoto da Paraíba, entre tantos  bambas.

Na praia do Leme, Copacabana, banho de mar em companhia do pai e do mano Francisco. Anos depois, apaixonado por sinuca, freqüentaria no bairro o Clube do Taco em noitadas e competições memoráveis.
                     

Aos 19 anos, trabalhando como bancário, atendeu o cliente Hermínio Bello de Carvalho e ali nasceu uma amizade e parceria pra vida toda, Hermínio foi seu descobridor. No Teatro Jovem, em Botafogo, virou músico do antológico show “Rosa de Ouro”, dirigido por Kleber Santos e escrito por Hemínio, e estrelado por Clementina de Jesus, Aracy Cortes e Época de Ouro.
E laços fortes se entrelaçaram com Zé Ketti, Cartola, Nelson Sargento, Élton Medeiros e outros.

                           

A paixão pela Portela vem desde cedo, em 1965 foi incorporado à ala de compositores da Escola e no ano seguinte assinou o primeiro samba-enredo, “Memórias de um Sargento de Milícias,  ambos vencedores do carnaval do ano.

Vista assim do alto
mais parece um céu no chão
sei lá,
em Mangueira a poesia fez-se um mar, se alastrou...’

Hermínio, brilhante farejador, inscreveu “Sei la Mangueira” no Festival da Record sem ele saber, e Paulinho causou com Elsa Soares defendendo sua linda ode à Estação Primeira de Mangueira. A repercussão seria ótima, senão tivesse ‘causado’ também uma reação negativa dos portelenses enciumados.
De saia justa, Paulinho se sentiu obrigado à dar o troco, reverenciando de viva-voz e inspiração uma composição à altura. Ficou matutando.  E aí...


‘...Não posso definir aquele azul
não era do céu, nem era do mar
foi um rio que passou em minha vida
e meu coração se deixou levar’

Foi um rio que passou em minha vida” tornou-se o maior sucesso de 1970 e também a mais importante música da obra impecável de PAULINHO DA VIOLAUm ano antes, ele compôs uma das músicas mais emblemáticas da década, sobre a incomunicabilidade das pessoas: “Sinal Fechado”,  quase falada, sussurrada na angústia e na solidão do mundo moderno.Em dueto com Chico Buarque, o sucesso nas paradas foi retumbante.


-'Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...

- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança.

- Por favor, telefone, eu preciso beber alguma coisa rapidamente...’

‘-Quando fiz “Sinal Fechado”, não pensava na importância que poderia ter para aquele momento ou para o futuro. Não tinha a pretensão de que atravessasse décadas e entrasse para a história como divisor de águas. A música foi feita num período da minha vida que parecia meio nebuloso, como se eu estivesse num sonho. A gente estava vivendo um momento difícil, mas não pensava em fazer música de protesto. Só algum tempo depois fui convencido que “Sinal Fechadosó poderia ter surgido naquele momento’, disse Paulinho.


Nos anos 70 fui entrevistá-lo para a coluna da Cidinha Campos no Jornal dos Sports. Seu apartamento ao lado do Cine-Veneza era todo ele mobiliado com móveis que ele próprio fez. As mesas, sofás, cadeiras, tudo passou pelas mãos do carpinteiro poeta de formas simples e anatomicamente suaves, tal qual o próprio.

Para celebrar os 70 anos de uma vida vitoriosa e tão harmoniosamente dividida com sua cidade, vamos assistir o vídeo do samba favorito do cara: “Coisas do mundo, minha nega”, em trecho de seu programa “Os Grandes Nomes – Paulo Cesar Batista de Faria”, realizado por Daniel Filho nos anos 1980, TV Globo. A primorosa letra fala de personagens e cenas legítimas do morro de então, o Zé Fuleiro durango, o seu Bento bebum e um corpo inerte no chão vitimado pela briga por um simples pandeiro. Coisas realmente do mundo, nega, recompensadas por 'aquele sorriso que tu entregas pro céu quando eu te aperto em meus braços...'

Na platéia famosa, Ângela Leal, Sonia Braga, Denise Bandeira, Renata Sorrah, Carlinhos Prieto e a filha Eliane Faria, cantora também, batendo cabeça pro Paulinho. Saquem só :


10 comentários:

  1. É uma das minha músicas favoritas! com ele e com Nara! linda a matéria!
    abrs.
    Almir Telles

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  2. Maravilha de Paulinho!!! Belíssima e merecida homenagem, essa música é uma entre tantas obrs primas dele. Parabéns pela lembrança. Você, como sempre antenado e destacando o que esses bons tem de melhor!!!! sou sua fã!!!! bjs

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  3. Valeu, Almir, a gravação da Nara é de+! A música é a cara dela, delicia. Marleníssima: eu tb sou seu fã - e vizinho - ; quando vai aparecer no cafofo do pirata praquela cerva, hein, hein? Grato pelo prestígio da audiencia dos dois!
    Buka

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  4. Adorável Bucaneiro!
    Que alegria ver Paulinho da Viola cantando essa obra-prima. E tantos amigos na platéia. Éramos felizes e sabíamos. Viva Paulinho poeta genial. E mil beijos pra você, da sua maruja e admiradora, Denise Bandeira

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  5. Esse aí não é principe é rei!!Rogerio Palma

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  6. EU TB. TENHO ALGO A DIZER, MAS ME FOGE À LEMBRANÇA.....Linda homenagem Bucaneiro, justa, merecida,carinhosa como vc. O Principe realmente é um ser humano bonito, e o compositor, transborda talento!Sou sua fan, tiete e admiradora.... sua poesia me espanta, comove, encanta. E vc. meu amigo, mora no meu coração, pela sensibilidade, dentre outras coisas q. possue. Mil bjssss de sua Engraçadinha Vera Vianna

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  7. É mesmo Denise, éramos felizes e sabíamos... tb com um fundo musical desses é covardia, né?Acredito q aproveitamos bem isso tudo. Agora cê tá tatuada na nossa nau, valeu maruja! Vera: o Paulinho é um rio q transborda em nossas vidas for ever, não é mesmo?Se vc tem algo a dizer mas te foge à lembrança, é pq vc não tem nada a dizer, só sentir!KKKKK.Grato pela força, Engraçadinha, bj

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  8. O Paulinho pertence a uma casta nobre do samba. Nós sabemos que no samba todo mundo quer ser malandro e tudo é meio no esculacho na base da bagunça institucionalizada, mas ele é o oposto disso.Como pode se manter com essa classe nesse tempo todo?? Ele é antes de tudo um homem educado que tem um refinamento natural e isso tornaele um artista diferente não digo como sambista mas como pessoa. Admirável Paulinho! Elaine Carvalho

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  9. É um músico que deu grandes toques no chamado inconsciente coletivo em alguns momentos marcantes das nossas vidas. Como aconteceu quando o samba ficou comercial e ele cantou "Argumento" e também no capitalismo selvagem apareceu até em novela da Globo cantando DINHEIRO NA MÃO É VENDAVAL!!Sempre Paulinho usou da ética e do bom senso.Abr.
    Paulo Mendonça de Barros

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  10. Não conheço o dueto de Chico e Paulinho em "Sinal fechado",só sei que a Elis gravou e deu o recado definitivo.

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