quarta-feira, 12 de junho de 2013

PENSANDO FREUD NO SÉCULO 21



Tem mais de cem anos que Sigmund Freud (1856-1939) inventou a Psicanálise. A investigação de processos mentais  mudou o comportamento do mundo através do procedimento analítico entre o analista e o analisado. Numa postura relaxada, o analisado é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente – método de associação livre – suas aspirações, angústias, sonhos e fantasias, assim como experiências vividas. O analista tenta, escutando o analisado, manter uma atitude de neutralidade, o não-julgamento.


Aprendemos a conviver com termos tipo: transferência, instinto, desejos inconscientes, divisão, neuroses, idealização, narcisismo, traumas, frustração, culpa, complexo, compensação, pulsão e outros mais. Tudo isso é avivado num quebra-cabeça de conteúdo saboroso para o psicanalista. A mente humana é um parque de diversões. Diversões é maneira de dizer, pois dói pra caramba...


 Lembro dos meus três anos de análise e outros  mais de tentativas, uma delas, frustrada, com um psicanalista especializado em adolescentes que era considerado um dos maiores da época. Depois de alguns meses de lua-de-mel, chegamos a um ponto intransponível no tratamento. Descobri que ele era radical e perigoso. Vazei. Depois de outras incertas, encontrei aquele que me deu rumo e toques fundamentais: dr Jacob Fuks. A ele, agradeço de coração o que pude detectar e melhorar naqueles vinte e muitos anos...Um dia, ele me disse mais ou menos isso: “você já reparou que tudo o que acontece de importante na sua vida tem a ver com o ato de escrever?” Caiu uma ficha aí determinante para minha vida profissional.


A Psicanálise me ajudou muuito, principalmente em questões da minha valorização - que eu não soube sedimentar – e na relação familiar, especialmente com meu pai. Eu me dei alta por que vi que aquele mergulho era infinito, dava dízima...Eu que me virasse na vida prática, pois já tinha recebido a régua e o compasso. Fuks concordou, mesmo transparecendo certa contrariedade em minha decisão.


Dos conceitos freudianos, alguns se eternizaram para mim: a pulsão do ego é uma delas, especialmente por que estava me introduzindo no meio do teatro onde a fronteira da vaidade é sem limites. Acredito que aprendi a dominar o ego; o inconsciente e seus mistérios foi também uma revelação fundamental: a consciência é somente a ponta do iceberg... Em nós não é só a razão que domina. Outra: não somos donos de nós próprios: conhece-te a ti mesmo é lema da teoria psicanalítica que governa o homem ontem, hoje e sempre.
                        

A contemporaneidade da Psicanálise é atestada ao assistir um espetáculo teatral como “Freud a Última Sessão” em cartaz até o dia 30 no Teatro Clara Nunes. Ela está viva em pleno século 21. A platéia é envolvida numa autêntica sessão de grupo ao testemunhar o embate entre doutor Freud, um ateu ferrenho, e C.S.Lews (1898-1963), escritor renomado, então estudante de Oxford, e cristão fervoroso.


A emocionante montagem assinada por Ticiana Studart faz a platéia refletir o tempo todo. E, mesmo com marketing rotulado de comédia, a brilhante peça do autor americano Mark St Germain bota o público para pensar, acompanhando atentamente os temas debatidos: a religião, o sexo, a sociedade humana e a própria psicanálise. O humor sarcástico ensaia breve reação crítica no espectador, mas passa ao largo do gênero comédia.


Hélio Ribeiro interpreta  Freud em composição apurada, convencendo a platéia  tratar-se de um octagenário transtornado com o cancro de palato que é acometido. Um trabalho de ator primoroso em seus mínimos detalhes, digno de premio. Leonardo Netto é tão elegante quanto verdadeiro na pele do escritor irlandês.

E a precisa tradução de L.G.Bayão emoldura o belo cenário realista de José Dias, formando uma equipe de frente inspirada. Na retaguarda da cuidada produção, a tarimbada Melise Maia, a frente da Rímel Produções, assegura um acabamento primoroso ao espetáculo.


O BUCANEIRO recomenda com entusiasmo, lembrando que só até o dia 30 "Freud a Última Sessão" estará em cartaz no Shopping da Gávea. Imperdível. Em seguida a produção ganha a estrada e começa por São Paulo uma turnê que promete atravessar o país. É teatro de verdade. Freud live!

8 comentários:

  1. Assisti no mes passado e quero ver de novo.Adorei!
    Lita Paes Leme

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  2. O Bucaneiro é sempre um bom momento de prazer e leitura inteligente.

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  3. Ual! Freud sempre me interessou. Fiquei com muita vontade de ver a peça. Já estou na torcida para Maceió estar entre as cidades da caravana pelo Brasil. Valeu Buca, mais uma dica quentíssima. Ana Cristina

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  4. Já ouvi falar tanto dessa peça que eu vou ver pois adoro tudo relacionado a psicologia. Tenho amigas que querem ver de novo.
    Selena

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  5. Amei Bucaneiro! mais p/ frente depois desse turbilhão vamos negociar uma postagem no meu site. adoro essa matéria e a sua está uma maravilha!
    bjssss
    vera Vianna

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  6. O auto-conhecimento é o primeiro passo para tudo. Parabéns.
    Geraldo Galocha

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  7. Voce corre, procura tantas saídas mas é ele quem explica!!!É a matriz da cuca KKKKKKKKKKKKKKKK Cadu

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  8. Me interessei por Freud quando li sobre os sonhos. Mas me interessou mais com a as interpretações do Jung que são diferentes. Abraços
    Rogerio Palma

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