Depois de onze anos sem filmar, ela está de volta. A
cineasta ANA CAROLINA, associada a produtores portugueses, estreia nesta semana
em Lisboa e Santarém o seu mais novo filme, “A Primeira Missa”, inspirado no famoso
quadro de Victor Meirelles (1832-1903).
Desde o doc “Getúlio Vargas”(1974) – considerado o melhor
documentário sobre o estadista – até seus instigantes filmes de ficção, “Mar de
rosas”, “Das tripas coração”, “Sonho de valsa”, “Amélia” e “O Boca do inferno”,
soma-se quarenta anos de caminhada. Foi osso.
Eu estava em Sampa nos anos 70, quando um amigo precisou
trocar um cheque – ainda não existia o dinheiro de plástico - com uma amiga de sua amiga Lucília, da
Cinemateca. A amiga era ela. Quando entrei em seu apartamento na Avenida
Angélica, babei na gravata, pois me deparei com uma Marisa Berenson trajando um palazzo-pijama de transparências esvoaçantes (risos), solta, bem humorada e linda que regava as plantas no jardim de inverno ao
som de Vivaldi...Bateu.
Quando foi lançar seu primeiro ficção, “Mar de rosas”
(1977), me convidou para fazer o lançamento. Não foi difícil para mim, então divulgador
azeitado, pois o produto em si era estimulante, provocativo, inovador e
assim...foi um tiro.
“Mar de rosas” caiu como uma dinamite nas telas brasileiras
e internacionais. O road-movie estiloso que ela realizou era tudo que o cinema
brasileiro de então precisava.
Em Paris foi um acontecimento. Fui entrevistar Norma Bengell
para a confecção do press-release, mas foi um fiasco.Assim que eu saí de seu apê no Jardim Botãnico, ela telefonou pra CAROLINA pedindo que a fita que
eu gravara fosse devolvida e não usada: ela achou que eu era um agente da
Cia...
Resolvemos focar o lançamento em Cristina Pereira ,
a Betinha endiabrada filha da protagonista dona Felicidade, autêntica revelação
que foi. Pedi um help à minha amiga Elda Priami, então redatora do Caderno Ela
de O Globo, que fez matéria de peso de uma página. As duas acabaram grandes
amigas. E “Mar de rosas” bombou.
Atriz-fetiche
presente em três filmes (“Mar de rosas”, “Das tripas coração” e “Amélia),
Myrian Muniz traduz com fidelidade a inquietação da
cineasta, que está em constante movimento sob emblemáticos signos de abismos e
indagações , o discurso essencial de sua obra. Myrian Muniz, uma força da
natureza. Em “Amélia” (1998), o enredo, que mistura ficção e realidade, revela
a crise profissional e pessoal da atriz francesa Sarah Bernhardt (Beatrice Agènin),
quando induzida por sua camareira Amélia (Marília Pêra), apresenta-se no Brasil,
em 1905. Entretanto, Amélia morre de febre amarela e a Divina Sarah passa a
conviver com suas exóticas irmãs. ANA CAROLINA aborda assim a relação entre
colonizados e colonizadores com o humor ácido habitual.
O poeta baiano Gregório de Mattos (1636-1696) foi o tema de
seu último filme “Gregório de Mattos, o Boca do Inferno” (2002), rodado todo no
Forte de Santa Cruz (Niterói) e que retrata momentos de sua vida através de
seus versos. O personagem feito por Wally Salomão (1943-2003), poeta e agitador
cultural, recriou a inquietação da alma
gregoriana...Além de Guida Viana, Ruth Escobar, Elisa Lucinda, Virginia
Rodrigues e Rodolfo Bottino, o filme contou com a auspiciosa estreia de Marília Gabriela na telona, que narra a
história e vive uma abadessa que teria sido amante do poeta. Os cascudos
aprovaram.
O quadro A Primeira Missa no Brasil foi pintado em 1860
(mais de três séculos depois do evento real) pelo catarinense Victor Meirelles, sob
encomenda do Imperador Dom Pedro II. Uma riqueza grande de símbolos emoldura a qualidade técnica e
estética da obra, tendo ao centro da tela a cruz que domina a composição,
dividida pela presença dos conquistadores à direita, os portugueses, e dos
indígenas, os conquistados, à esquerda e ao pé da tela. É um prato, já
saboreado pela cineasta em “Amélia”.
Menos pomposa e eloqüente, a leitura cinematográfica de ANA
CAROLINA passeia pelo olhar crítico que deposita como de hábito ao criar uma
tragicomédia inspirada no célebre quadro. Ela deixa escapar para o jornal O
Estado de São Paulo apenas como pista a frase: “O filme tem aquela minha natureza que você sabe...”
É o Brasil com a oficialização da posse, quando Pedro
Álvares Cabral faz rezar a primeira missa, que inscreve a terra,
recém-descoberta, na tradição ocidental-cristã. Essa integração carrega uma
conotação cultural e outra econômica, que vai criar uma dependência do índio,
da terra ocupada.
Com elenco na maioria de atores portugueses, o núcleo
brasileiro se faz presente com nomes tão diversos quanto os de Fernanda
Montenegro, Alessandra Maestrini , Arrigo Barnabé e Rita Lee, assim como o do
novato Dagoberto Feliz.
CAROLINA declarou ao Estadão ter ficado entusiasmada com as
atuações lusas, destacando os atores Rui Unas, Pedro Barreiro, Ricardo Silva e
Marcantonio Del Carlo: “Me acostumei com
os nossos atores, que são grandes, mas a capacidade de invenção dos portugueses
me deixou louca. Eles são de um profissionalismo extraordinário, e ao mesmo
tempo, respondem aos estímulos e
embarcam na viagem da gente.”
O melhor está por vir. Começar o ano com um novo longa
assinado por ANA CAROLINA é a melhor
notícia que o cinema brasileiro poderia ter, fala sério. O lançamento nacional
está marcado para 4 de março de 2014.
Cumprindo o compromisso com os co-produtores portugueses - a
Ibermédia e Jose Fonseca e Costa – de realizar duas pré-estreias em Portugal,
exibiu em Lisboa o filme nessa semana em sessão fechada numa sala que pertence
á cadeia de Paulo Branco, ex-produtor de Manoel de Oliveira.
Neste sábado (dia 21) será apresentado em Santarém, a
convite da prefeitura, terra onde nasceu e está enterrado Pedro Álvares Cabral.
Bestial!
Que bela noticia um novo filme de Ana Carolina, Lendo a materia me dei conta que assisti todos os fimes dela....Vamos todos aguardar para assistir a Missa da cineasta. carinho do velho ator emilianoqueiroz
ResponderExcluirSIM!!! Uma boa noticia! A volta de talentos como o dela sempre enriquece nossa cena. Linda matéria Bucaneiro! bjsss e FELIZ NATAL!
ResponderExcluirVera Vianna
Crôko,
ResponderExcluirVi de madrugada e adorei!
Saudades daquele trabalho e mais tarde nós, no Amelia, lembra?
Feliz Natal pra vc também, lindo Ano Novo!
abraços
da Cristina Croka Pereira
-Via email-
O quadro sempre foi considerado chapa branca.Parece que ele fez varios outros encomendados por Dom Pedro. Fico com o quadro do filme que me parece mais na real.
ResponderExcluirPaulo Mendonça de Barros
Que boa notícia Luruko, Ana Carolina de volta! Vou ver sem falta! Pena que não vai ter a Mírian Muniz!
ResponderExcluirExcelentes festas pra você, querido amigo!
Louise Cardoso.
Fico muito feliz. Beijo para Carolina. Boa sorte p[ara todos. Ab. Geraldo Sarno.
ResponderExcluir-via email
Ela é uma referencia feminina do cinema nacional sem dúvidas. Lita Paes Leme
ResponderExcluirEu não entendo por que um filme como este não vai concorrer no Oscar. Soube que nesse ano não haverá filme brasileiro. Porque? E quando vai algum que consegue ser aceito não acontece nada na premiação dos filmes estrangeiros. Acho que só mandam porcaria com violencia e miséria. Nosso cinema vai mal das pernas, o que passa? Abraços. Rogerio Palma
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