sábado, 21 de maio de 2011

F O F O C A, UMA REFLEXÃO SOBRE A COMPULSÃO DA INTRIGA




Voce já sabe da última? Não? Nem eu... Taí um negócio que eu procuro cortar pela raiz, a tal da fofoca. Nem sempre é fácil sair de um papo maledicente, e às vezes você escorrega sem sentir porque o apelo é forte e está presente no inconsciente coletivo. Todos fofocam sem sentir, até a gente, mas quando eu me toco, volto atrás e vazo. Quando não somos agentes da fofoca, somos vítimas dela.

A revista científica Science desta semana publica estudo britânico com 140 entrevistados em que pesquisadores da Universidade de Northeatern, dos Estados Unidos, descobriram que uma fofoca negativa influencia e paralisa mais a mente humana do que um comentário positivo ou neutro. Cientistas afirmam que as pessoas tendem a fixar mais tempo o olhar no rosto daquele que ouviram falar mal, como forma de defesa.

Anônimos ou famosos, parentes, conhecidos, simples vizinhos ou colegas de trabalho, todos entram no caldeirão da fofoca. Segundo o dicionário Houaiss, fofoca significa um dito maldoso, uma especulação ou informação não baseada em fatos concretos. No velho Novo Aurélio, fofocar é fazer intriga, mexericar, bisbilhotar...

O tema me intrigou quando li o livro do dr José Ângelo Gaiarsa (FOTO), psiquiatra renomado:”Tratado geral sobre a fofoca” (Editora Summus), cujo subtítulo é: uma análise da desconfiança humana. De forma sugestiva, polêmica e séria, ele descreve a maneira como todos nós estamos envolvidos, tanto como vítimas quanto agentes da fofoca.

Gaiarsa estima que 40% de todas as conversas do mundo se baseiam em fofocas. Diz ele: “Estimo que 20% é conversa funcional, ordem, pedido, informação, constatação e declaração. O restantes 80% se dividem em duas partes iguais: 40% dela é fofoca e 40% é afirmação de preconceito.

Cartoom Tirinhas do Zé - José James

A fofoca é popular e está presente nos cartoons, nas tiras dos jornais, colunas e sites, em personagens populares da tv e do rádio, em letras de músicas, temas de filmes e livros. E, claro, através da classe política do país, cujo espelho é inevitável. As famosas intrigas palacianas existem de dez... A histórica Revista do Rádio criou os Mexericos da Candinha, pioneira das fofocas dos artistas. Lidas hoje, as noticias soam ingênuas e divertidas, na verdade a maioria era inventada e produzida para alimentar as popularidades dos cantores, vedetes e atores da época. A criatividade contava: “Quem era aquele cantor casado que estava na Barra da Tijuca jantando com aquela garota-propaganda que é noiva ? Eu bem que sei, mas não conto nem morta, queridinhos...”

A Candinha era ficcional, escrita em conjunto por Borelli Filho, diretor da revista, Atílio Cerino, Carlos Imperial e outros. Os divulgadores das gravadoras também palpitavam, e muitas vezes a brincadeira acabava comprometendo alguém.

Os paparazzi, tão em moda, são os grandes fofoqueiros da atualidade. A partir dos valorizados flagras que clicam, nasce uma fofoca quentinha, seja na porta de um hotel, em restaurantes, nos estacionamentos, na praia. Os sites de fofocas proliferam, saltam das colunas de revistas e vão para o universo web com sede: O Fuxico, Te contei? TiTiTi, Babado, etc. As fofocas requintadas ficam por conta de Zé Simão e Tutty Vasques. Na televisão os paulistas lideram: Leão Lobo é um dos mais famosos, até por ter perdido ações movidas pelos atores Susana Vieira e Thiago Lacerda. Igualmente gorducho, Mamma Bruschetta (FOTO) conta seus mexericos na TV Gazeta diariamente, seja falando do divórcio de Arnold Schwarzenegger ou do casamento de Cauã Reymond e Grazi Massafera.

Durante alguns anos rendeu a história de uma suposta cueca do ator Thiago Lacerda, colocada em leilão pelo apresentador Gugu Liberato, ainda no SBT no ano 2000. Na verdade, a cueca era uma sunga que o apresentador afirmava ter sido usada pelo ator na encenação da Paixão de Cristo em João Pessoa. O fato tão bizarro e aproveitador fez o ator mover uma ação contra Gugu e a emissora, ganhando indenização por danos morais e materiais.

A fofoca está no ar ! Se a fofoca afeta nosso sistema visual e faz com que as pessoas prestem atenção especial no rosto do fofocado, como afirma a pesquisa liderada por Eric Andersen para a revista Science, vamos refletir sobre a compulsão antiga que persegue a humanidade: fazer intriga, julgar, ouvir que uma pessoa mentiu, enganou, traiu, ganhou mais dinheiro ou mais poder.

O próximo passo da pesquisa é estudar distúrbios da ansiedade, como diz Anderson: “As fofocas fazem literalmente as pessoas enxergar mais problemas ou ver menos sorrisos? Isto pode alimentar a ansiedade, se tornar um círculo vicioso e levar a um distúrbio de ansiedade.”

“Marcha da Fofoca”

De Wilson Batista e Jorge de Castro)

Carnaval de 1957

Canta: César de Alencar

Fala, fala, fala, fofoqueira

Fala, fala, fala , faladeira

Venha conhecer minha maloca

Deixa de fofoca

Intriga é contra a moral

Fofoca eu sou tão legal

A minha orelha quer se refrescar

Me dá uma colher e chá !


5 comentários:

  1. Uma vez eu li um artigo que falava um pensamento interessante. Na luz da psicologia a fofoca é um mal necessário, por assim dizer porque tira o marasmo do dia a dia das pessoas.O mundo sem ela ia ser sem liga.Sempre penso nisso quando escuto fofocas,e nãolevo a sério e até me diverte.
    Maria Elisa Prates (Viçosa)

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  2. Aristóteles disse que o homem é um ser social, entao juntou mais de um já desperta curiosidades naturais de ordem comportamental e da psiqué humana. Trata-se do nosso primitivo é apenas isso. Bernardo Bokel

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  3. a fofoca move o mundo. Oque estão fazendo com o Palocci se não for meia duzia de fofocas, cara, macacos me mordam! Suka Bento

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  4. Os índices da estatistica do Gaiarsa deviam ser atualizados. Eu acho 40% muito pouco pensando nesse tema ampliado e circunstancial no contexto.
    Já virama TV Senado?A TV Câmara? tem mais fofoca que qualquer programa de televisão, rádios, sites ,,blogues.é uma vergonha ficar vendo a conspiração eletronica desses sujeitos.
    Wanderley Caminha de Lacerda

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  5. Existem também fofocas boas. É bom que se diga porque senão fica parecendo que é tudo intriga e aí entra no terreno da paranoia pura. Não é não bucaneiro,,presta atençao!beijinhos da blogueira Alice de Caxambu.

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