sábado, 10 de outubro de 2009

CAFOFO DA POESIA - 8 -



Cearense de nascimento, o poeta, ator e roteirista MANO MELO chegou ao Rio de Janeiro aos 16 anos, e aportou por aqui para todo o sempre. Fez do Rio seu cais, e carimbou identidade carioca, vivenciando o espírito da cidade, seu porto de inspiração para poemas continentais, amorosos, políticos e anárquicos.
Conheci MANO nos anos 60, quando rolava o Seminário de Dramaturgia, coordenado pelo Albino Pinheiro no Conservatório de Teatro, no prédio da UNE. Éramos todos “jovens pra frente”, e freqüentávamos o ouriçado apartamento dos irmãos Ivan e Vera Setta, regado à noitadas inesquecíveis na base da caipirinha, da cerva gelada e muito laboratório de teatro. Tempo bão!


Viajou pelo mundo – América Latina, Ásia, Europa e África – e na volta tornou-se figura habituée dos palcos cariocas, bares, centros culturais, buraco do metrô, bistrôs e teatros, assumindo de vez a alma de poeta andarilho e performático.
Suas apresentações são teatrais, vibrantes, expressionistas, a serviço de poesia supimpa e super inspirada. Pertence à legítima Geração Botanic, bar charmoso do Jardim Botânico dirigido por Cecília Petraglia, que revelou os poetas antenados dos anos 80. Ao lado dos Camaleões (Claufe, Bial e Petry), Elisa Lucinda, Glória Horta, Cairus Trindade, Bráulio Tavares, Elvira Helena e Geraldinho Carneiro, entre outros, sedimentou seu espaço, sempre surpreendendo, sempre se destacando.

Com diversos livros editados (O Evangelho de Jimi Rango, O Vampiro Ciro, Rio Acima, Tratado Geral sobre os Amplos Instintos, O Lavrador das Palavras), está preparando um novo, com poemas inéditos saindo do forno, em breve pela Íbis Libris Editora: Poemas do Amor Eterno.

Em avant, MANO apresenta especialmente para o Cofofo 8, um deles.
Curtam a seguir:

Transas Transcendentais
de Mano Melo

A conheci na encruzilhada escura
da Rua da Paranóia com o Beco da Paúra
em horas tardias esvaziando copos
de pernod com bourbon,
apaixonada por um astrólogo de almanaque,
adivinhador de horóscopos
em estrelas de crepon.
E este mago de araque
com cérebro de palha coração de pilha
e cara de pulha,
lhe deixou na lona
com dois filhos pra criar
e virou Hare Krishna.

Ela ficou sem saber o rumo.
Perguntou às runas,
As runas não disseram.
Consultou o I Ching,
As moedas evaporaram.
Apelou para o tarot,
as cartas se rasgaram,
jogou nos búzios,
os búzios permaneceram calados.

E eu com tanta vontade de ouriçar meu pelo
em sua pele
fazer minha almofada as suas mãos de fada,
tecer meus desejos em seus fios dentais,
subir por suas transas
transcendentais!

E a indivídua nem aí,
dividida entre a Igreja Universal
e o Santo Daime.
Qualquer biscoito de água e sal
que a distraia de seus infernos.
- Je t’aime! Je t’aime!
Escrevi numa folha
de caderno.
Assim mesmo em francês,
na esperança que ela me escolhesse
a sua bola da vez!

2 comentários:

  1. Oi Buca!!Salve o bola da vez!!As obras deste talento foram laureadas em grandes debates na faculdade de filosofia,nos cafés e leiterias do Largo de S. Francisco (R.J).Viviamos os piores momentos da repressâo política nesse país. Norma Suely liderava o grupo.Parabeéns e salve a cultura!!! Abraço querido do Natal Luiz.

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  2. Acompanho a muito tempo o Mano Melo, fui assisti-lo no telezoom e ele continua muito bom. parabéns pela homenagem!
    Geraldo Galoch\a

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