quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A ALEGRIA DE LÍDIA MATTOS



Uma alegria de viver que contagiava a todos que chegassem perto dela, assim era LIDIA MATTOS, tanto em carne e osso quanto pelas lentes da televisão artesanal que ela ajudou a implantar. Começou no rádio, fez teatro e cinema, mas foi na telinha que desenvolveu o carisma, a personalidade e o talento de grande comunicadora assim como a atriz sensível que foi.
Simpatia e naturalidade atravessavam a tela refletindo a sensação de intimidade com o telespectador de alguma parente ou pessoa muito próxima.
O tempo passou, e ela partiu nesta semana para o panteão da glória pioneira deixando saudades eternas.

Foi quando escrevi o livro “TV Tupi, uma viagem afetiva” para a Coleção Aplauso em 2010, que conheci LIDIA pessoalmente. Residindo no Solar da Gávea, luxuoso residencial geriátrico, fui entrevistá-la, e a minha admiração transformou-se em instantânea amizade, pois ela era toda doçura  e sinceridade. 
Que ser humano!


Depois do rádio, cinema e teatro, que esquentaram o temperamento de uma jovem cheia dos talentos, ela estreou na televisão carioca em 1954, três anos depois da inauguração da TV Tupi canal 6, a nossa primeira emissora de tv. No “Teletestes Lutz Ferrando”, programa de perguntas e respostas, ela respondia dúvidas do telespectador em pílulas diárias.  Logo em seguida,  passou a comandar ao lado do marido, o radialista Urbano Lóes e seus quatro filhos – Dilma, Tânia, Urbano Jr e Luis Carlos -  o programa “Eles estão em casa” nas tardes de sábado do canal 6., que trouxe para o novo veículo o cotidiano de uma família classe média igual a tantas da época. Identificação imediata.


A filha Dilma Lóes seguiu carreira e tornou-se cineasta e atriz de cinema, televisão e teatro. No programa, a família parecia mesmo que estava em casa, tudo era improviso, sem texto fixo, apenas um roteiro que determinava os assuntos. Muita gente pensava que tudo era ensaiado e se surpreendia com as cenas hilárias que rolavam. O maestro Villa Lobos, seu professor de canto orfeônico,  celebrou os 70 anos no programa e tocou dois números ao piano.


Foi na Rádio Mayrink Veiga que ela conheceu Urbano Lóes. Ele era o seu galã nas radionovelas, e assim, a proximidade do trabalho foi além-microfones. Virou amor, amor eterno. Eles foram casados por 40 anos até seu falecimento em 1980. Ela me contou que nestes anos todos ela pensava nele todos os dias; e que estava recebendo visitas dele ultimamente. Falou sorrindo com os olhos vivos me encarando.


LIDIA MATTOS também foi pioneira no cinema brasileiro. Seu primeiro filme foi “Aves sem ninho” (1939), dirigido por Raul Roulien, quando tinha apenas 17 anos. A seguir atuou duas vezes com Humberto Mauro: em “Argila” (1940), no segundo papel feminino ao lado da estrela Carmen Santos, e “O Despertar da Redentora” (1942), quando recebeu os maiores elogios por sua interpretação como a Princesa Isabel. Filmou também com Moacyr Fenelon, Carlos Hugo Christensen, Eurides Ramos,  e na estreia de Florinha Bolkan como diretora, LÍDIA ganhou o Kikito de melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado, em 2000, por “Eu não conhecia Tururu”.


Mas o sucesso popular de LIDIA MATTOS foi confirmado quando apresentou ao lado Murilo Nery o “Boliche Royal” (1956), os dois tinham uma química no ar...Eles formaram a primeira dupla autêntica de mestres de cerimônia da televisão.
O programa foi um sucesso, o auditório da Urca lotava de jovens da classe média da zona sul que, munidos de envelopes de gelatina, derrubavam garrafinhas ao vivo e em preto e branco para ganhar liquidificadores, geladeiras e vitrolas.

O poder de comunicação de LIDIA era grande, e seus improvisos surpreendiam não só o público, como ela me contou para o livro:

-“Lembra do Al Neto, com cachimbo, meio prosa? Ele fazia “Encontro com os Amigos”. Eu apresentava com ele e fazia o comercial como garota-propaganda. Um dia ele estava entrevistando o Nelson Rockefeller, eu cheguei e coloquei uma batedeira na mão dele: ‘Esta é uma batedeira Arno!’ Dizem que o João Calmon não gostou, poderia ter criado um caso diplomático, não sei...”



Muito amiga da escritora Janete Clair dos tempos do rádio, ela ganhou personagem especialmente para ela em “Selva de Pedra” (1972), na Globo, a desembaraçada Vivi. Seguiram-se outras novelas na emissora: “Assim na terra como no céu”,  “Plumas e Paetês”, “O Bem Amado”, “A próxima vítima” e “O primo Basílio”, entre outras.
Na TV-E fez “João da Silva” com Jacy Campos, novela educativa.


A fotografia acima foi feita especialmente para o nosso livro. São 4 gerações da família Lóes: LIDIA, Dilma, Vanessa e Cora. Vanessa Lóes, casada com o ator Thiago Lacerda, tem dois filhos: Gael e Cora, no flagrante recém nascida. O clic é do papai Thiago. O lado família sempre foi o aspecto mais forte da vida da grande atriz e comunicadora LIDIA MATTOS, que deixou além dos 4 filhos, 7 netos e tres bisnetos. E como se orgulhava da família!



No lançamento de “TV Tupi, uma viagem afetiva” na Livraria Travessa, sua presença foi um acontecimento à parte. Muito querida pelos colegas, foi saudada e reverenciada por pioneiros de igual peso e importância, como Almeida Castro, Maninha de Castro, Neyde Aparecida, Maria da Glória, João Loredo, Luiz Vieira, Adonis Karan, Theresa Amayo, Ricardo Kathar, Neila Tavares, Marly Bueno, Mauricio Sherman, Jomeri Pozzoli, Eloá Dias, Carlos Alberto Santos, Flavio Cavalcanti Jr, Aracy Cardoso, Doris Monteiro e Maria Pompeu, entre outros. 

Na foto, o reencontro com Maninha, a grande amiga, relembrando os tempos de garota-propaganda que elas foram no início de tudo, cercadas pelos curumins Luiz José e Jorge Eduardo Vieira, filhos de Eurídice e Luiz Vieira.

Muito emocionado com sua partida, sinto-me compensado por tê-la em meu modesto livro, e agora poder eternizá-la na web através deste recorte, tributo sincero de um admirador.
Alegria, alegria, legado que LIDIA MATTOS deixou aos que com ela conviveram de longe e de perto. Um sorriso que jamais se apagará.

17 comentários:

  1. COMOVENTE SEU TRIBUTO E SUA LEMBRANÇA AMIGO!
    NOSSA LÍDIA MERECE E JAMAIS SERÁ ESQUECIDA, PRINCIPALMENTE POR NÓS QUE TIVEMOS O PRIVILÉGIO DE TRABALHAR COM ELA NOS MEANDROS DA TV E DO RÁDIO. ABRAÇOS TRISTES PELO OCORRIDO MAS DOCES POR AINDA CONTAR COM AMIGOS COMO VC.
    APARECIDA MENEZES
    via email

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  2. Luis Sérgio,
    Boa tarde!
    Muito linda e carinhosa a homenagem que você fez à atriz Lídia Mattos.
    Abração
    Betina Viany

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  3. Linda homenagem! Ainda bem q. existe você p/ guardar a memória brasileira de nossas atrizes.Muito bonito!!!
    vera Vianna

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  4. Ela era maravilhosa! Agora viajei no tempo e me emocionei, obrigada! Que ela descanse em paz. Lita Paes Leme

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  5. Ela era maravilhosa. Meu pai e minha mãe adoravam ela e como eu só via o que o meu pai deixava, eu adorava!
    ff
    Fafy Siqueira
    via email

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  6. Que relato maravilhoso!
    Como você disse no início, parecia que ela era uma amiga muito próxima, quando aparecia na TV.
    Uma carreira riquíssima.
    Marcelo

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  7. Sérgio, linda homenagem à mmamãe!
    Muito obrigada pelo seu carinho e talento! Um beijo carinhoso,

    Dilma

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  8. Olá Luis. Deixei uma mensagem no facebook, mas também deixarei aqui no blog. Sou produtora de esportes da TV Globo e fiquei curiosa para saber mais sobre a história da turma que andava de skate no Rio. Estou pensando em fazer matéria sobre isso. Se puder me retornar, deixei meus contatos no facebook, inclusive te adicionei.

    Obrigada! Lorena Dillon

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  9. Querido Luiz Sergio.
    Esta mensagem está sendo ditada por mim e digitalizada pelo meu irmão, apesar de ter computador, ainda não o domino totalmente. Assim, depois de ver e ler sua mensagem em memória da nossa querida Lidia o que muito me emocionou, fiquei tambem gratificada pela lembrança desta sua admiradora.
    Com todo meu carinho e um grande beijo.
    Maninha de Castro

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  10. A vida toda eu admirei essa atriz e pessoa completamente do bem.Sentirei saudade com certeza!!! bjos Lidia va com Deus.
    Tamara Taxman

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  11. Foi muito bonito meu encontro com Urbano e Lidia, enquanto trabalhavamos juntos nas novelas da Globo se tornaram meus amigos. Meu ultimo encontro com Lidia foi no lançamento do livro de Luis Sergio narrando afetivamente a saga Tupi e minha mais cara recordação enquanto faziamos O homem que deve morrer e ela era a mãe de Jardel Filho. Doce lenbrança de Lidia com o carinho do velho ator e amigo emiliano queiroz

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  12. Oi, Luis Sérgio!

    Sou Tania, a segunda dos quatro filhos da Lidia (curiosamente, a única com Matos no sobrenome): Urbano Jr, Tania, Dilma e Luiz Carlos. Foi aqui de casa que acessei teu site com a mamãe apoiando a criação do museu da TV Tupi. Tinha acabado de ler um livro sobre a história do rádio e estava chocada com a qualidade da pesquisa: havia uma única e superficial referência a meu pai (e nada sobre a minha mãe) que trabalhou como locutor e apresentador durante anos em inúmeros programas da Nacional e Mayrink.
    O estrago de uma pesquisa bibliográfica mal feita é imenso: novos autores tendem a utilizar fontes de livros já publicados perpetuando (para o bem ou para o mal) aquela que será a versão/informação sobre os fatos.
    Coloquei a mamãe ao meu lado no computador para pesquisar sites sobre rádio e TV, quando me deparei com o Bucaneiro. Vibramos com a proposta do museu da TV e mandamos um comentário para você na mesma hora.
    Depois, a surpresa do teu livro-delícia sobre a TV Tupi. De fato, foi uma viagem afetiva. Você conseguiu juntar todos os que participaram daquela época de ouro. Ou melhor, os que estavam presentes e sobreviventes pertenciam à época-afetiva.
    Foi extraordinário ver pessoas que povoaram minha infância presentes e saí encantada pedindo autógrafos. Foi a primeira vez na vida que pedi autógrafos.

    Estou curiosa para saber como foi teu contato com ela e o agendamento da entrevista para o livro. Ela não associou você ao site.
    No mais, obrigada pelas lembranças e informações - não só sobre a mamãe - mas sobre toda uma época (às vezes, parece que o mundo da TV foi iniciado pela TV Globo).
    Como a memória é coletiva, lembro que a Maninha de Castro (muito amiga da mamãe) tem histórias fantásticas sobre a época. Tenho algumas fotos e lembranças se precisar.
    Um beijo carinhoso,
    Tania Matos Lóes

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  13. Ela sempre teve a imagem da artista familia. Por isso é que nós viamos ela como uma daquelas queridas tias do passado. Saudades!
    Elisabeth Garcia

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  14. De Almeida Castro
    Somente com atraso pude chegar agora ao Bucaneiro. Pensava em ir ao Rio vêr Lidia Matos no Solar da Gavea. Não pude cumprir o que lhe prometera naquela noite linda em que,olhos marejados, a abracei na livraria do Leblon. Ela continuava superando o tempo. Ali via vida, alegria, coragem, beleza. Senhorial, digna, leal, linda em seu sorriso e autentica como em toda a sua vida. Naquele momento, renovei meu eterno agradecimento por ter tido a honra de trabalhar ao lado de Lidia Matos e de ser um parceiro de tanta gente que, como ela, fez as raizes da televisão brasileira. As discretas lagrimas do ancião companheiro de lutas eram de admiração e respeito. Exatamente dois anos depois, outras lagrimas marcaram a noticia de sua partida. Que Deus a tenha em Paz.

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  15. Almeida Castro, que lindo comentário. A mamãe sempre falava de você e dessa época onde pelo olhar brilhante de quando comentava, deve ter sido de grande criatividade, alegria e romantismo. Parece que nos anos 50 as pessoas a vida era muito saborosa e os amigos estavam sempre juntos se divertindo e criando. Ainda estou atordoada com a sua partida. Ora, me sinto feliz porque ela partiu sorrindo dizendo que estava muito feliz e que amava todo mundo, como se já estivesse pronta para ir para uma viagem de feliciade onde reencontraria pessoas que amava e que nunca mais viu. Ora, me sinto profundamente triste por náo ë-la mais aqui. Sérgio, que lindo o seu blog. Parabéms pelo seu belo trabalho e muito obrigada por ter registrado a tragetória da mam'àe no seu sensível e amoroso livro sobre a TV Tupi. Um grande beijo em vocês dois. Dilma Lóes

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  16. Nossa, que homenagem mais linda, sempre tive simpatia por ela, mas nao sabia muito sobre sua vida, e sem querer parei na sua página. Os comentários só fazem ainda aumentar essa energia maravilhosa dessa página de internet. Tenho certeza que a Lídia está feliz onde está junto ao seu amor e com a certeza de sua trajetória aqui na terra foi cumprida com louvor. Obrigada!!

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  17. Lidia Mattos gravou um disco em 1954. O lado A do 78rpm Repertório 9.006 traz a composição de seu marido Urbano Lóes denominada CARMEN MIRANDA, obviamente em homenagem à pequena notável. No lado B interpreta MEU MORENO, de José Utrini e Benedito Santos.
    Ai vai o vídeo de Lidia Mattos interpretando CARMEN MIRANDA.
    https://www.youtube.com/watch?v=owKh12JiONk

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