quinta-feira, 9 de abril de 2009

ISOLDA GUERREIRA CRESTA







ISOLDA CRESTA saiu de cena assim de repente, deixando a familia, amigos e admiradores surpresos e tristes. Atriz de temperamento forte foi guerreira fora dos palcos e dos estúdios, militando com a juventude 68 e a engajada classe artística de então.

A jornalista e atriz HILDEGARD ANGEL , amiga de ideais políticos parecidos, foi a primeira jornalista a abrir espaço em sua conceituada coluna no Jornal do Brasil (7/abr) para homenageá-la. Hilde sempre sai na frente quando a questão é generosidade e companheirismo, por isso é uma referencia não só no jornalismo brasileiro, mas especialmente no coração de seus incontáveis amigos.

O BUCANEIRO publica na íntegra este ilustrado recorte emocionado.

REQUIÉM PARA ISOLDA CRESTA:
MAIS DO QUE ATRIZ, ELA FOI UM GRANDE PERSONAGEM

Há pessoas que passam e deixam em nós um sentimento de tristeza e
nostalgia. Outras nos inspiram frustração, por não as termos conhecido mais, gostado mais, estado mais. Morreu uma dessas pessoas, a atriz Isolda Cresta. Muito mais do que os obituários burocráticos e curtos da mídia, muito mais do que uma atriz, Isolda foi um personagem...

Com uma carreira bem fundamentada em aulas com mestres da Fundação Brasileira de Teatro, como Dulcina de Moraes, Adolfo Celli, Maria Clara
Machado e Cecília Meirelles, ela estreou dirigida por Ziembinski em Sangue do domingo, fez Frenesi, sucesso de Madame Morineau, e, em seguida, no Tablado, atuou em Dona Rosita, a Solteira, com direção de Sérgio Viotti.

Muitos outros trabalhos vieram, papéis importantes, como sua Stella tão elogiada, em Um bonde chamado desejo, filmes, novelas de TV. Mas foi em sua vida que Isolda protagonizou os papéis mais importantes, em enredos que poucos viram ou conheceram...

Em 30 de março de 1964, ela ensaiava a peça Os Azeredo mais os Benevides, dirigida pelo autor, seu namorado Oduvaldo Vianna Filho (a produção era do CPC, que Vianinha dirigia), quando o prédio da UNE, na Praia do Flamengo, foi metralhado num ataque do Comando de Caça aos Comunistas, e quase que ela, e os outros atores, Nelson Xavier, Vera Gertel, Virginia Valli, Carlos Vereza e Ivan Cândido, foram metralhados junto. A peça era para inaugurar o teatro que estava sendo construído no prédio....

Em maio de 1965, Isolda foi presa pelo Dops por ter lido manifesto contra o envio de tropa brasileira para a República Dominicana, antes do espetáculo Electra, no Teatro do Rio. A classe teatral e a imprensa se mobilizaram até que ela fosse solta, dois dias depois, com toda a classe na porta do Dops: Fauzi Arap, Guarnieri, Sérgio Britto, Natalia Thimberg, Paulo Autran, Teresa Aragão, Ferreira Gullar e atores dos grupos Oficina, Opinião, Arena...

Isolda realmente movimentou as massas. Ela foi ativista política, filiou-se ao MR8, em 1969, colaborou intensamente dando cobertura aos guerrilheiros da luta armada e agindo com eles em episódios arriscados, quando demonstrou coragem e altivez. Encarou todas e se expôs como poucos, escondeu gente e armas, uniu-se à Aliança Liberdade Nacional , de Carlos Marighella e Joaquim Câmara, e fez a segurança dos militantes, conseguindo esconderijos onde pudessem descansar depois de alguma ação...

Paralelamente, a atriz continuava em cena, fazendo teatro. Peças como O Avarento, em pleno 1968, produzida por seu marido na época, o produtor Orlando Miranda. Também no teatro, mas fora do palco, ela se envolveu em ações corajosas, como quando deu fuga a Marcos Medeiros, namorado de sua colega de elenco, Maria Lucia Dahl...

Sempre falante, sempre entusiasmada, sempre amiga leal, Isolda atuou em diversas montagens de Orlando, no Teatro Princesa Isabel. Como em O Bem Amado, de Dias Gomes, que depois virou novela, em que ela interpretou sua personagem mais conhecida na TV, Odete, a mulher do dentista Lulu Gouveia
(Lutero Luiz)...

Na vida amorosa, Isolda também não decepcionou. Nos anos 70, namorou Raul Seixas, que compôs, no apartamento dela, na Lagoa, a famosa Maluco Beleza, em parceria com o genro da atriz, Cláudio Roberto, casado coma filha caçula, Ângela Vitória. Com a morte desta filha, Isolda se afastou da vida profissional, dedicando-se por inteiro à família: a outra filha, Ana Cristina, netos, bisnetos...

Isolda pretendia escrever sua biografia, com a colaboração do escritor Luis Sergio Lima e Silva. Ela chegou a preparar uma brochura, em que escreveu: “Em 1974, participei ativamente da campanha pela Anistia e, em 1985, pelas Diretas Já. Nesta passeata, que foi um deslumbre, meu neto, Lao, de cinco anos, foi nos ombros do pai. Ele disse que estava “brigando com o presidente”. Depois, ele foi um dos caras pintadas que gritou “fora, Collor”. Fiquei muito orgulhosa dele!” Lao, o neto de Isolda, é braço direito da atriz Regina Case. A lida da família nas artes continua...

Isolda, temperamento forte, vulcão sempre ativo, foi cuspir bondade e ( se necessário ) fogo no céu. Viva ou morta, ela é daquelas que jamais perdem a oportunidade de tomar posição...

Hildegard Angel



5 comentários:

  1. Buka amigo, belas suas palavras em relação a Isolda e sua referencia a jornalista Hildegard Angel. A materia de Hildegard inspirada e bem escrita retrata bem a figura impar de Isolda Cresta. Um comovente e lirico retrato . Abraços do velho ator Emiliano Queiroz.

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  2. OI ZOZO QUERIDA!!...o grande palco que espera por todos nós,nesse momento está mais vibrante e estrelado!!!Foi lindo ter te conhecido,e parabéns pela militança política,e uma carreira das mais ricas.AMAMOS VOCÊ,e muitas saudades!! NATAL LUIZ.

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  3. Bela homenagem, suas lembranças são sempre muito fortes e carinhosas...

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  4. Bela homenagem.
    Trabalhei com ela nos anos 80 e só tenho boas recordações dessa atriz. Acho que como o taetroé uma espécie de arte sem memória, falar sobre os que se foram é uma boa maneira de mante-los entre nós.
    Q

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  5. Ela brigou por um mundo melhor num momewnto que era preciso lutar. Bravo Isolda!
    Maria Helena Gonçalves

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