segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ABSOLUTAMENTE ANSELMO !



Ator do cinema marcado com o rótulo de galã, ele foi o número um em beleza, talento e carisma. Atravessava a tela com sinceridade de intérprete, ar de bom moço, justiceiro e sedutor. Seguido de perto por Cyll Farney, Herval Rossano e John Herbert, que se revezavam nas produções da época, ANSELMO DUARTE (1920-2009) assumiu o posto absoluto de protagonista, tornando-se o principal mocinho da história, estrelando diversos longas, a maioria de comédias carnavalescas, que pejorativamente ganharam da crítica o nome de chanchada.



A Hollywood sem Filtro tupiniquim formatou o casal mais charmoso daquele momento: ANSELMO e Eliana, paralelamente à duplas românticas que formou posteriormente com Tonia Carrero, Eliane Lage, Odete Lara, Ilka Soares, Leonora Amar, Eva Wilma e Sonia Dutra.

Mas com Eliana, o cromo era perfeito. Foi em “Carnaval no Fogo” (1949), dirigido por Watson Macedo para a Atlântida, que ele se firmou como galã sangue azul. O argumento do filme era seu: bandido internacional hospeda-se no Copacabana Pálace para assaltar turistas no carnaval. Por causa da troca de uma cigarreira, vêem-se envolvidos o diretor artístico do hotel (ele), dois empregados curiosos (Oscarito e Grande Otelo) e uma cantora (Eliana), até que a polícia frustra o golpe no último minuto.

“Carnaval no Fogo” foi um estouro da boiada, grande sucesso de bilheteria, abrindo assim o filão das comédias carnavalescas, que reinaria a partir deste filme,capitaneadas por diretores como Watson Macedo, José Carlos Burle, Carlos Manga, J.B.Tanko, Eurides Ramos e outros.




Em 1952 protagonizou “Tico-tico no Fubá”, a cinebiografia do compositor Zequinha de Abreu, o primeiro filme produzido pela Vera Cruz, com direção de Adolfo Celi, ao lado de Tonia Carrero, com quem rodaria a seguir “Apassionata” (de Fernando de Barros) , e no mesmo ano “Veneno” dirigido por Gianne Pons, contracenando com Leonora Amar. Todos filmes dramáticos.



“Sinfonia Carioca” de 1955 foi o luxo das comédias, assinada pelo craque Watson Macedo, que tirou a sobrinha Eliana da Atlântida para sua produtora, e mais uma vez colocou-a nos braços de ANSELMO DUARTE, tiro certo de bilheteria.


No ano seguinte o casal volta à telona em sucesso estrondoso: “Depois eu conto”, considerada a melhor direção de José Carlos Burle. ANSELMO colabora também no delicioso argumento (com Burle, Alinor Azevedo e Berliet Junior), na montagem e co-produz, atuando com Eliana, Grande Otelo e Dercy Gonçalves. Como o Zé da Bomba, um frentista alpinista social, tem desempenho sofisticado, e faz cenas hilárias com Dercy Gonçalves.



ANSELMO trabalhava sem parar não só como ator, mas também assinando argumentos, produzindo e preparando-se para dirigir, que era seu sonho.
Em 1957 estreia com brilho na direção em “Absolutamente Certo”, mais uma vez contracenando com uma Dercy Gonçalves absolutamente impagável, e ainda Odete Lara, Fregolente, Luis Orioni, Maria Dilnah e Aurélio Teixeira. Baseado em argumento de Jorge Iléli e Jorge Dória, assina o roteiro com Talma de Oliveira, e como o galã mais popular da década, estrela o longa.


Mas... o melhor estaria por vir: em 1962 sua segunda direção torna-se o maior acontecimento cinematográfico brasileiro e internacional: “O Pagador de Promessas”, baseado na peça teatral de Dias Gomes, abiscoita a Palma de Ouro no Festival de Cannes como o melhor filme, desbancando Antonioni, De Sica e Buñuel. Com Leonardo Villar, Gloria Menezes, Dionísio Azevdo, Norma Bengell e Geraldo Del Rey, todos muito bem dirigidos, o filme arrebatou o júri e consagrou ANSELMO como diretor.

Foi a gota d’água para os intelectuais cineastas do Cinema Novo caírem de pau encima de ANSELMO, revelando uma mesquinha inveja completamente preconceituosa e sem sentido.
“Fizeram tudo para denegrir a minha conquista, que foi referenciada em vários outros festivais naquele ano”, declarou magoado e lúcido.

ANSELMO DUARTE viveu 89 anos com 40 filmes no currículo, sempre envolvido em realizações de alto nível, desde suas primeiras aparições na Cinédia, Vera Cruz, Atlântida, Cinedistri, Unida e Brasil Filmes.
Tornou-se uma referencia na historia da cinematografia brasileira.
Casado duas vezes, com a primeira mulher a atriz Ilka Soares, teve dois filhos: Anselmo Duarte Junior e Lídia Soares Duarte. Do segundo casamento nasceram Regina Hooper e Ricardo Duarte. Seus filhos criaram o Instituto Anselmo Duarte para preservar a memória do pai. No momento preparam a restauração de 26 de seus filmes, contando com o apoio do Ministério da Cultura, em fase da captação de recursos.



Muito querido pelos colegas, deu a grande chance no cinema à Gloria Menezes em “O Pagador de Promessas”. Escalada inicialmente para o papel da prostituta, foi passada para a mulher do Zé do Burro, quando a atriz Maria Helena Dias declinou do convite por motivo de saúde. Com isso, também outra atriz teve sua grande oportunidade: ANSELMO importou Norma Bengell dos shows de Carlos Machado e acertou na mosca, dando-lhe a personagem.



Paulista, nascido na cidade de Salto, onde teve seu primeiro contato com o cinema na função de molhador de tela – ele jogava água no lençol do Cinema Pavilhão quando os rolos dos filmes, ainda mudos, eram trocados – ele foi enterrado no domingo dia 8 último, depois de seu rito de passagem. Descansa, grande !


Foto Anselmo atual: Paulo Liebert
Foto com Gloria Menezes: Revista Contigo
Demais fotos: Pesquisa Google


8 comentários:

  1. Oi Buca!!!Ele deu o grande SALTO prá se unir a um grande elenco em algum lugar,onde nós seremos um dia parte de uma grande platéia.Os holofotes estarão acesos prá recebe-lo. Do NATAL LUIZ.

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  2. Olá Buka. Ainda é madrugada e vejo seu blog para aplaudir o grande Anselmo Duarte. Vivas para o belo e inesquecivel ator e brilhante diretor. Em Independencia ou morte estivemos no mesmo set. Alem de tudo Anselmo era um delicioso contador de historias. Do velho ator Emiliano Queiroz.

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  3. Ele é um gato!!!!! Adorei, não conhecia mas certamente daria muitos beijos na boca.
    Verônica

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  4. O Pagador de Promessas é um filme inquestionável e mereceu a Palma de ouro.Esses diretores do cinema novo foram patrulheiros, poorque o Anselmo Duarte não pertencia a patota deles. Eles acabaram afastando o publico do cinema que Anselmo e outros mais conquistaram.
    João Paulo Ramos

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  5. Que bom você (como sempre) ter feito uma matéria sobre ele tão boa. Ele ficaria mega feliz. BJS

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  6. Ele é o maior pão!!!! ai meus tempos, vi muito filme com ele no Metro Copacabana. Saía apaixonada por ele querendo casar ter filhos e só viver nos seus braços. Saudade do pão doce Anselmo!
    REGINONA , Teresopolis

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  7. Meu pai além de ter sido um homem cheio de êxitos em sua carreira ,sempre terei a lembrança dele me apoiando e me incentivando a vencer cada vez mais em tudo que realizei em minha vida...para mim foi sempre um grande pai apesar da distancia em quilometros mas sempre presente em meus pensamentos. Não disse adeus !pois ele continua vivo em todos os meus dias...Te amo muito papai!...

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  8. Sou muito fã do Anselmo. Esse homem foi um guerreiro. Veja o que ele fez em Absolutamente Certo. Que coisa linda. E O Pagador de Promessas? Apesar de tantos sucessos e de tanta coragem para se renovar sempre, Anselmo foi perseguido pela ditadura e esnobado pelos "intelectuais" do Cinema Novo. Mas nenhum deles, nem Glauber Rocha, ganhou a Palma de Ouro. Só Anselmo ganhou e ganhou porque ele era honesto no que fazia, porque ele brilhava sem pisar em ninguém.

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