sábado, 28 de novembro de 2009

Z O Z Ô, DANÇANDO SOBRE UM VULCÃO




A atriz ISOLDA CRESTA (1929-2009) brilhou no teatro, sendo premiada duas vezes, enquanto a cidadã ZOZÔ cuspiu fogo com fôlego de vulcão durante a ditadura militar. As duas são uma só, multifacetadas em ser humano vibrante, de temperamento impetuoso e super bem humorada.

Escrevi sua biografia para a Coleção Aplauso (Imprensa Oficial do Estado), que chega à marca de 200 títulos sob as batutas de Hubert Alquéres e Rubens Ewald Filho. Ela me escolheu para a tarefa, depois de nos reencontrarmos no site Memorial Norma Suely, onde gravou seu depoimento. Logo em seguida, quando escrevia a biografia de Isabel Ribeiro, consultei-a sobre a convivência das duas em temporadas de teatro, e ela disparou:
“é você, quero que escreva meu livro, você tem tempo, você aceita?”

Tivemos dois encontros, e ela me deu manuscrito de 70 páginas que burilou durante toda sua vida. Em abril fomos surpreendidos com sua inesperada partida, que deixou família e amigos tristes e desbundados.
Caiu a ficha, me toquei que eu poderia ajudar a realizar o seu sonho maior: o livro. Consultei o Rubens, que na hora comprou a ideia.

A FAMILIA E OS AMIGOS

Com trajetória rica e muito bem contada na primeira pessoa, procurei rechear o bolo com a ajuda de onze queridos amigos e mais sua filha, sobrinha, secretária e netos. A filha Ana Christina me abriu o acervo que ZOZÔ cuidadosamente guardou durante a sua existência: recortes, fotografias e programas de peças, e o diário que sempre escreveu. Além de Ana, a sobrinha Maria Cristina de Laet, os netos Clara, Lao, Rosa Morena e Laila deram depoimentos emocionados, assim como Dedé, Maria Enedina, a fiel secretária e confidente.

Maria Lucia Dahl, Erico de Freitas, Thais Portinho, Ney Matogrosso, Vanja Orico, Orlando Miranda, Camille K e Paulo Afonso de Lima gravaram.
Neila Tavares, Cláudio Gonzaga e Norma Sá Pereira escreveram.



UM BONDE CHAMADO SUCESSO

Em “Um bonde chamado desejo”(1963) foi premiada pela Critica como melhor atriz coadjuvante do ano, vivendo Stella, a irmã de Blance Dubois, interpretada por Maria Fernanda em performance memorável.
Trecho do depoimento de Neila Tavares sobre a atuação da amiga, a mulher de Kowalski:
...”O casal era só sensualidade, selvagem, grotesca, primitiva, animal e Isolda era um incêndio no palco. Um fogaréu, uma égua, um búfalo, sei lá, era alguma coisa indomável, indomesticável, sem-vergonha de ser, um cio...”

PRISÃO & O AVARENTO

Depois de ter sido presa pelo Dops por ter lido manifesto contra o envio de soldados brasileiros para a República Dominicana durante a temporada de “Electra” (1965), passou a fazer oposição à ditadura militar que se instalou no país e tantos danos causou, sobretudo às artes. Passou a dar proteção a guerrilheiros quando conheceu o líder estudantil Marcos Medeiros, então namorado de sua amiga Maria Lucia Dahl, colega de palco de “O Avarento”(1968).
Durante esta temporada, além de Maria Lucia, dois amigos tornaram-se seus inseparáveis: Erico de Freitas e Thais Portinho.
E o convívio com Procópio Ferreira também foi marcante para ZOZÔ.
Trecho de seu relato:
“- Foi uma honra pra mim ter contracenado com ele em suas últimas peças.
Além d’O Avarento”, fizemos “Odorico, o Bem Amado”, e viajamos pelo Brasil com as duas peças. Como ele era querido pelo povo!”

BOTEQUIM : SEGUNDA PREMIAÇÃO NO TEATRO

Por seu desempenho em “Botequim (1973) , dirigida por Antonio Pedro, abiscoitou seu segundo premio nos palcos: o Governador do Estado de Melhor Atriz do ano.
Trecho de ZOZÔ VULCÃO:
... “Nós estávamos em plena ditadura militar, qualquer crítica era proibida, então, tudo tinha que ser dito de maneira velada. A peça se passava dentro de um botequim, lá fora estava o maior temporal, fazendo muitas vítimas, que se refugiavam ali, mas tinham medo de falar. A Olga, minha personagem era uma espécie de louca de Chaillot, que contava as atrocidades vividas no temporal.”

Amigos, nesta terça dia 1, o BUCANEIRO vai estacionar sua fragata nos mares jobinianos de Ipanema, na altura da ouriçada Casa de Cultura Laura Alvim para fazer um brinde com Moet Chandon, que a sobrinha Maria Cristina e seu marido Carlos de Laet oferecem, abraçar amigos e selar minha segunda participação na Coleção Aplauso, resgate maior da cultura brasileira. Se rolar apagão, El Niño ou tempestade, nem vou ligar.
ZOZÔ estará dançando sobre um vulcão, celebrando seu livro com a intensidade avassaladora que atravessou a vida.
Salve ISOLDA CRESTA, grande atriz brasileira !

2 comentários:

  1. Grande, grandíssima atriz.Estilo próprio, sem igual. Vulcão, mesmo, no palco e na vida. Parabéns, Sérgio, pela sacação. A capa está linda. Zozô foi uma das mulheres mais bonitas que já vi.
    E a matéria do Bucaneiro muito legal.
    Sucesso. Beijo
    Neila Tavares

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  2. Oi Buca!!São 3 h da manhã e deslumbro o cenário perfeito para esta noite tão esperada.Lua cheia,primavera verão,Ipanema e a sala Laura Alvim em frente das areias mais democratas do R.J,ou seja,as areias da liberdade G.L.S,sem preconceitos e discriminacões.O rádio anuncia que o Sr.Arruda é mais uma vez reincidente,é a democracia! Bem, aguardarei as 19 h chegar,com a minha bandeira imaginária tremulando e gritando VIVAS a democracia,VIVAS asZOZÔS,VIVAS as ZUZUS,aos STWARTS eaos HERZOGS,VIVAS a todos soldados das artes da poesia da literatura dos teatros que com suas armas intelectuais nos presentearam com a liberdade.VIVAS a você BUCA ,que hoje mais uma vez estrá no púlpito nos recebendo com carinho de sempre.Até mais e um forte abraço do NATAL LUIZ.

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