domingo, 27 de outubro de 2013

BIOGRAFIAS, EIS A QUESTÃO


 ‘Esse papo seu tá qualquer coisa, você já tá pra lá de Marrakesh...’


A polêmica em torno das biografias não autorizadas está mexendo com a ’intelectuália’ tupiniquim. Especialmente por ela partir de artistas da música  que lutaram contra a censura do regime militar, acompanhados de outros um pouco mais comportados. O bagulho é doido.

A empresária Paula Lavigne levanta a bandeira capitaneando figuras como Caetano, Gil, Chico Buarque, Djavan, Milton Nascimento, Roberto e Erasmo Carlos. Ela afirmou de saia justa, no programa de mesmo nome da GNT, que ela e sua turma estão sob linchamento, bullying e coisas deturpadas na mídia, por terem assumido tal posição.


Autodenominado Procure Saber, o grupo, segundo sua mentora, se manifestou para contestar à Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) que a Anel – Associação Nacional dos Editores de Livros – move no STF contra o Código Civil, artigos 20 e 21 que enfatizam não serem permitidas a publicação de informações pessoais de qualquer cidadão em casos de atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade...

Nunca ouvi falar que artista é cidadão comum, enfim... por serem pessoas públicas (quem bota a bunda na janela...) o caso vira um libelo contra a liberdade de expressão, no mínimo.


O episódio trás de volta a polêmica do livro “Detalhes” de Paulo César de Araújo sobre Roberto Carlos, publicado pela Editora Planeta em 2007, e que foi retirado das prateleiras pelo ‘homenageado’. Eu fui dos poucos que pude adquiri-lo.  O livro é primoroso, bem escrito, bem apurado e bem ilustrado. O Rei deu um tiro no pé ao rechaçá-lo, que a meu ver, trata-se de um documento extremamente bem pesquisado e que analisa o mito Roberto Carlos com seriedade e admiração.


Em entrevista ao jornal O Globo, Chico Buarque, ‘procurando saber’, exemplificou o desrespeito que considera nas biografias desautorizadas citando o livro do Roberto, e afirma  que Paulo César de Araújo nunca o entrevistou, apesar dele estar no livro. Araújo respondeu na bucha, publicando fotos e a entrevista que fez com ele em 1992 sobre RC: “O importante era restabelecer a verdade. O mundo vai ver que ele se enganou: me acusou de ter usado o nome dele  sem tê-lo entrevistado. Era a minha credibilidade que estava em jogo.”  Chico vestiu a saia justa da Lavigne e...se desculpou.

Para ilustrar, uma reflexão: por querer saber, o que faz um artista do calibre de Chico não assumir algo do seu glorioso passado? Há três anos atrás, fechei com Cícero Sandroni, então presidente da Academia Brasileira de Letras, uma leitura dramatizada de “Roda Viva”, a primeira peça escrita por Chico. Convidei atores e músicos (Celinha Vaz, Marcos Sacramento, Chico Diaz, Clara Sandroni), formatei o texto para Leitura e marquei ensaios, Mas... ele brecou. Não permitiu que a peça fosse lida. Insisti, mas ele foi firme: não adianta...

Assim, o século 21 fica sem saber que peça é essa, que todo mundo ouve falar e identifica seu tema musical, mas ninguém tem loção do que se trata. Chico recebeu críticas ferrenhas na ocasião da montagem antológica de Zé Celso Martinez (1968), e parece que isso o traumatizou. For ever.


Procure saber, procure sabeeer...O que artistas da Hollywood de então sofreram com tantas biografias difamatórias, vocês agradeceriam de joelhos por estarem no Brasil...Nos anos 1970 , “Hollywood Babylon” detonou vulgarmente atores e diretores da era dourada, contando orgias e devassidões inúmeras. Agora, o octagenário e  ex-fuzileiro naval Scotty Bowers, doublé de frentista de posto de gasolina,  escreveu “Full Service” que conta as loucuras sexuais que praticou e agenciou com astros tipo Vivien Leigh, Errol Flynn, Cole Porter, Walter Pidgeon, Rock Hudson, Katherine Hepburn e Spencer Tracy, entre tantos. De leve.


Mais próximo um pouco, em 2010, Andrew Morton, autor de biografias de Madonna, Princesa Diana, Mônica Lewinsky, entre outras, lançou em NY : “Angelina: uma inautorizada biografia” sobre Angelina Jolie. Não é uma bio difamatória ou apelativa mas revela coisas muito particulares da vida da atriz, como o assédio de seu pai o ator John Voight, seu bissexualismo, além da vida humanitária que leva, e os seus sucessos na tela. Morton fala até de supostos afagos de seu marido Brad Pitt com um amigo no último Festival de Cannes... Sabe o que ela fez? Nada.


Eu escrevi duas biografias não tão autorizadas pois as biografadas  já haviam desencarnado: “Isabel Ribeiro Iluminada” e “Isolda Cresta Zozô Vulcão”, sobre as atrizes Isabel Ribeiro e Isolda Cresta, ambas para a Coleção Aplauso (Imprensa Oficial de SP). Procurei fazer um trabalho sério e sem me furtar na narrativa de fatos íntimos & relevantes das homenageadas. Seus herdeiros nada contestaram e os amigos e admiradores, elogiaram.


O assunto passeia pela internet e jornais. Meu cronista favorito Sérgio Augusto escreveu no Estadão sobre: “Afasta de nós esse cale-se”, título bem sacado. Texto enxuto e bem explorado, Augusto solta seus toques geniais, só lendo, e ainda cita a cantora Nana Caymmi que não vê graça alguma na biografia chapa-branca: “...o melhor que os artistas têm a fazer é se sentir honrados por ter gente interessada na vida deles...”

No site Jornalismo B, uma reflexão genial de Atílio Alencar sobre os moderninhos e prafrentex artistas:
“...Pois agora são eles, Caetano, Gil e Chico, a engrossar o coro da ala mais conservadora da música pop do Brasil, a saber, os herdeiros da domesticada Jovem Guarda. Assim como Roberto Carlos – o rei caprichoso que mandou recolher das prateleiras os exemplares de uma biografia sua não-autorizada, escrita em 2007 por Paulo César de Araújo – a outrora dupla rebelde da Tropicália e o implacável provocador do regime militar integram uma organização chamada Procure Saber (nome baseado  num dos jargões evasivos de Gilberto Gil), cuja finalidade seria a genérica defesa da vida privada dos artistas contra a especulação promovida por biógrafos e pesquisadores.”


E durma-se com um barulho desses.Múúúú...Partiu.

10 comentários:

  1. Adoro ler Biografias sejam elas autorizadas ou não. Acho eu que a discussão não tem nada a ver com o leitor. Nós queremos ler um bom livro e isso basta. A questão tem que ser discutida entre os interessados. Porque o Roberto Carlos não deixa sair o livro? Artistas famosos como ele tem várias biografias. Cada um com umenfoque, ninguem é dono da verdade e bem dono de ninguem. Selena

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  2. Não tenho interesse nessas pessoas...Eu não compraria de nenhum desses porque não me interessa a vida deles, desculpa mas gosto não se discute ja dizia minha avó!!!!
    Paulo Mendonça de Barros

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  3. Pelo que disse no Fantástico ontem Roberto Carlos não está mais nesse grupo. Ele declarou que é a favor da biografia não autorizada, então que faça valer a palavra e deixa o livro ser publicado. Pelo que vi caiu a ficha do rei...Lita Paes Leme

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  4. A Paula Lavigne diz que estão fazendo bullying com ela...Coitada, é uma santa! Ela gosta de grana no bolso só isso e nada mais// Rogerio Palma

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  5. Parabéns mais uma vêz pelo texto sobre as biografias .O que você falou é perfeito e irretocavel .Parabens mais uma vez.Publica no face .Grande abraço do seu admirador

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  6. A memória é livre. Cada um tem uma visão do outro e é só isso. Como pessoas públicas, o que temer? Quem não deve não treme !! Tao

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  7. Fiquei constrangida com o video de artistas gabaritados e meus ídolos...Pior a emenda que o soneto, Crystal Chaves

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  8. A melhor distancia entre dois pontos é a reta! Porque complicar o incomplicavel, porra???Todos são exibicionistas, isso chega a ser cínico. Cadu

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  9. A mútua admiração e amizade entre Caetano e Roberto Carlos foi pra cucuia por causa desta polêmica. Os dois romperam e estão em lados opostos sem nós entendermos o que cada um defende de verdade. Confuso! Claudio Monteiro

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  10. No teor desse papo o Chico revela que está um tremendo vacilão....anonimus rs

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