‘Esse papo seu tá qualquer
coisa, você já tá pra lá de Marrakesh...’
A polêmica em torno das
biografias não autorizadas está mexendo com a ’intelectuália’ tupiniquim. Especialmente
por ela partir de artistas da música que
lutaram contra a censura do regime militar, acompanhados de outros um pouco
mais comportados. O bagulho é doido.
A empresária Paula Lavigne
levanta a bandeira capitaneando figuras como Caetano, Gil, Chico Buarque,
Djavan, Milton Nascimento, Roberto e Erasmo Carlos. Ela afirmou de saia justa,
no programa de mesmo nome da GNT, que ela e sua turma estão sob linchamento,
bullying e coisas deturpadas na mídia, por terem assumido tal posição.
Autodenominado Procure
Saber, o grupo, segundo sua mentora, se manifestou para contestar à Ação Direta
de Inconstitucionalidade (Adin) que a Anel – Associação Nacional dos Editores
de Livros – move no STF contra o Código Civil, artigos 20 e 21 que enfatizam
não serem permitidas a publicação de informações pessoais de qualquer cidadão
em casos de atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade...
Nunca ouvi falar que artista
é cidadão comum, enfim... por serem pessoas públicas (quem bota a bunda na
janela...) o caso vira um libelo contra a liberdade de expressão, no mínimo.
O episódio trás de volta a
polêmica do livro “Detalhes” de Paulo César de Araújo sobre Roberto Carlos,
publicado pela Editora Planeta em 2007, e que foi retirado das prateleiras pelo
‘homenageado’. Eu fui dos poucos que pude adquiri-lo. O livro é primoroso, bem escrito, bem apurado e bem ilustrado. O Rei
deu um tiro no pé ao rechaçá-lo, que a meu ver, trata-se de um documento
extremamente bem pesquisado e que analisa o mito Roberto Carlos com seriedade e
admiração.
Em entrevista ao jornal O
Globo, Chico Buarque, ‘procurando saber’, exemplificou o desrespeito que
considera nas biografias desautorizadas citando o livro do Roberto, e
afirma que Paulo César de Araújo nunca o
entrevistou, apesar dele estar no livro. Araújo respondeu na bucha, publicando
fotos e a entrevista que fez com ele em 1992 sobre RC: “O importante era
restabelecer a verdade. O mundo vai ver que ele se enganou: me acusou de ter
usado o nome dele sem tê-lo
entrevistado. Era a minha credibilidade que estava em jogo.” Chico vestiu a saia justa
da Lavigne e...se desculpou.
Para ilustrar, uma reflexão:
por querer saber, o que faz um artista do calibre de Chico não assumir algo do
seu glorioso passado? Há três anos atrás, fechei com Cícero Sandroni, então presidente
da Academia Brasileira de Letras, uma leitura dramatizada de “Roda Viva”, a primeira peça
escrita por Chico. Convidei atores e músicos (Celinha Vaz, Marcos Sacramento,
Chico Diaz, Clara Sandroni), formatei o texto para Leitura e marquei ensaios,
Mas... ele brecou. Não permitiu que a peça fosse lida. Insisti, mas ele foi
firme: não adianta...
Assim, o século 21 fica sem
saber que peça é essa, que todo mundo ouve falar e identifica seu tema musical,
mas ninguém tem loção do que se trata. Chico recebeu críticas ferrenhas na
ocasião da montagem antológica de Zé Celso Martinez (1968), e parece que isso o
traumatizou. For ever.
Procure saber, procure
sabeeer...O que artistas da Hollywood de então sofreram com tantas biografias
difamatórias, vocês agradeceriam de joelhos por estarem no Brasil...Nos anos
1970 , “Hollywood Babylon” detonou vulgarmente atores e diretores da era
dourada, contando orgias e devassidões inúmeras. Agora, o octagenário e ex-fuzileiro naval Scotty Bowers, doublé de frentista de posto de
gasolina, escreveu “Full Service” que
conta as loucuras sexuais que praticou e agenciou com astros tipo Vivien Leigh,
Errol Flynn, Cole Porter, Walter Pidgeon, Rock Hudson, Katherine Hepburn e
Spencer Tracy, entre tantos. De leve.
Mais próximo um pouco, em
2010, Andrew Morton, autor de biografias de Madonna, Princesa Diana, Mônica
Lewinsky, entre outras, lançou em NY : “Angelina: uma inautorizada biografia”
sobre Angelina Jolie. Não é uma bio difamatória ou apelativa mas revela coisas
muito particulares da vida da atriz, como o assédio de seu pai o ator John
Voight, seu bissexualismo, além da vida humanitária que leva, e os seus
sucessos na tela. Morton fala até de supostos afagos de seu marido Brad Pitt com um
amigo no último Festival de Cannes... Sabe o que ela fez? Nada.
Eu escrevi duas biografias
não tão autorizadas pois as biografadas já haviam desencarnado: “Isabel Ribeiro Iluminada”
e “Isolda Cresta Zozô Vulcão”, sobre as atrizes Isabel Ribeiro e Isolda Cresta, ambas para a Coleção Aplauso (Imprensa Oficial
de SP). Procurei fazer um trabalho sério e sem me furtar na narrativa de
fatos íntimos & relevantes das homenageadas. Seus herdeiros nada contestaram e os amigos e
admiradores, elogiaram.
O assunto passeia pela
internet e jornais. Meu cronista favorito Sérgio Augusto escreveu no Estadão
sobre: “Afasta de nós esse cale-se”, título bem sacado. Texto enxuto e bem
explorado, Augusto solta seus toques geniais, só lendo, e ainda cita a cantora Nana Caymmi que não vê graça alguma na biografia
chapa-branca: “...o melhor que os artistas têm a fazer é se sentir honrados por
ter gente interessada na vida deles...”
No site Jornalismo B, uma
reflexão genial de Atílio Alencar sobre os moderninhos e prafrentex artistas:
“...Pois agora são eles,
Caetano, Gil e Chico, a engrossar o coro da ala mais conservadora da música pop
do Brasil, a saber, os herdeiros da domesticada Jovem Guarda. Assim como
Roberto Carlos – o rei caprichoso que mandou recolher das prateleiras os
exemplares de uma biografia sua não-autorizada, escrita em 2007 por Paulo César
de Araújo – a outrora dupla rebelde da Tropicália e o implacável provocador do
regime militar integram uma organização chamada Procure Saber (nome
baseado num dos jargões evasivos de
Gilberto Gil), cuja finalidade seria a genérica defesa da vida privada dos
artistas contra a especulação promovida por biógrafos e pesquisadores.”
E durma-se com um barulho
desses.Múúúú...Partiu.
Adoro ler Biografias sejam elas autorizadas ou não. Acho eu que a discussão não tem nada a ver com o leitor. Nós queremos ler um bom livro e isso basta. A questão tem que ser discutida entre os interessados. Porque o Roberto Carlos não deixa sair o livro? Artistas famosos como ele tem várias biografias. Cada um com umenfoque, ninguem é dono da verdade e bem dono de ninguem. Selena
ResponderExcluirNão tenho interesse nessas pessoas...Eu não compraria de nenhum desses porque não me interessa a vida deles, desculpa mas gosto não se discute ja dizia minha avó!!!!
ResponderExcluirPaulo Mendonça de Barros
Pelo que disse no Fantástico ontem Roberto Carlos não está mais nesse grupo. Ele declarou que é a favor da biografia não autorizada, então que faça valer a palavra e deixa o livro ser publicado. Pelo que vi caiu a ficha do rei...Lita Paes Leme
ResponderExcluirA Paula Lavigne diz que estão fazendo bullying com ela...Coitada, é uma santa! Ela gosta de grana no bolso só isso e nada mais// Rogerio Palma
ResponderExcluirParabéns mais uma vêz pelo texto sobre as biografias .O que você falou é perfeito e irretocavel .Parabens mais uma vez.Publica no face .Grande abraço do seu admirador
ResponderExcluirA memória é livre. Cada um tem uma visão do outro e é só isso. Como pessoas públicas, o que temer? Quem não deve não treme !! Tao
ResponderExcluirFiquei constrangida com o video de artistas gabaritados e meus ídolos...Pior a emenda que o soneto, Crystal Chaves
ResponderExcluirA melhor distancia entre dois pontos é a reta! Porque complicar o incomplicavel, porra???Todos são exibicionistas, isso chega a ser cínico. Cadu
ResponderExcluirA mútua admiração e amizade entre Caetano e Roberto Carlos foi pra cucuia por causa desta polêmica. Os dois romperam e estão em lados opostos sem nós entendermos o que cada um defende de verdade. Confuso! Claudio Monteiro
ResponderExcluirNo teor desse papo o Chico revela que está um tremendo vacilão....anonimus rs
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