COMISSÃO DA VERDADE NAS ASAS DA PANAIR

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) pousou no Rio a bordo de um possante DC-3 da Panair do Brasil para investigar as causas que levaram à falência a companhia aérea Panair do Brasil, ação orquestrada pela ditadura militar (1964-1980). A audiência pública ocorreu no Teatro Maison de France, coordenada por Paulo Sérgio Pinheiro, Rosa Cardoso, coordenadora de trabalho Golpe de 64, Jaime Antunes, do Arquivo Nacional e o presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous. Também presente, Rodolfo da Rocha Miranda, atual presidente da Panair.

Documentos considerados sigilosos que comprovam a suspeita de perseguição política e financeira à empresa por parte do governo militar serão agora investigados. Segundo Rocha Miranda, filho de um dos sócios da empresa, Celso da Rocha Miranda, seu pai e o sócio Mario Wallace Simonsen foram identificados com os governos de Juscelino Kubitshek e João Goulart, o que motivou a perseguição e o fechamento da  Panair.

 Com 100% de capital nacional, a Panair era a maior companhia aérea brasileira na época, concessionária da maior parte dos vôos internacionais e rede nacional igualmente poderosa, com uma estrutura em terra que nenhuma companhia alcançou até hoje. O governo militar pressionou para que fosse decretada a falência, ocorrida em 10 de fevereiro de 1965.

  ...E O FECHAMENTO DAS TVS EXCELSIOR E TUPI  ?

A linha de investigação à empresas perseguidas dá o start com a Panair, mas uma pergunta que não quer calar, fica no ar: E as emissoras de televisão Excelsior e Tupi, que também foram cassadas pelo governo militar?

Mario Wallace Simonsen, além de sócio da Panair, era proprietário da TV Excelsior e amigo pessoal de João Goulart, o presidente deposto pelos militares. Ele sofreu pressão das empresas americanas de café, orquestrada por Herbert Levy, e por não ter transmitido os acontecimentos de 1964, foi inquirido e teve a então poderosa Excelsior imediatamente fechada, em 23 de abril de 1964, no mesmo mês do Golpe. A Excelsior foi a primeira emissora de televisão a ser administrada com visão empresarial. Nem o pedido de Bibi Ferreira (então contratada da emissora) ao Marechal Castelo Branco  adiantou.

A Tupi, a primeira emissora brasileira e quarta da América Latina,  mergulhada em dívidas, também teve seus transmissores lacrados pelo Governo Figueiredo sem dó e piedade. Uma vigília de 18 horas na Urca comandada pelo apresentador Jorge Perlingeiro transmitiu a agonia de funcionários da emissora em espetáculo dramático que comoveu o país.

Fernando Chateaubriand, filho de Chatô, esteve presente no palco do grill, e fez apelo  ao vivo ao general Figueiredo que deixasse a emissora prosseguir aos cuidados de uma cooperativa administrada pelos funcionários e técnicos sob o seu comando. No YouTube, este vídeo está postado. Nem a amizade que uniu o seu pai com o General Euclides Figueiredo,  pai de João Batista Figueiredo falou mais alto.(sabe-se que Chatô ajudou muito o então comandante da Revolução Constitucionalista de 1932). No dia 18 de julho de 1980, a dois meses de completar 30 anos de pioneirismo, a maior rede de emissoras brasileiras, as Emissoras Associadas, fechou as portas.

A intervenção do regime militar à estas importantes empresas de comunicação também merece investigação.
A Comissão da Verdade com a palavra.